Um compromisso que vai além do Setembro Amarelo
01/10/2025 às 00:26
Foto de saira ahmed na Unsplash
por Saúde e bem-estar com Dr. Ricardo Gullit
 
O setembro amarelo acabou, mas a realidade continua: quase 1/5 dos brasileiros já pensaram, em algum momento, em tirar a própria vida. Esse número impressionante mostra a dimensão do suicídio como um grave problema de saúde pública - ele mata mais do que guerras, homicídios e até mesmo câncer de mama. E há um dado ainda mais alarmante: para cada morte por suicídio, estima-se que ocorram outras 30 tentativas não fatais.
É nesse contexto que surgiu o Setembro Amarelo, mês dedicado à conscientização sobre a prevenção do suicídio, que chega ao fim hoje. Mas, mesmo com o fim do mês, a atenção não pode acabar. Prevenir suicídios precisa ser um compromisso diário de todos nós.
Durante muito tempo acreditou-se que falar sobre o assunto poderia aumentar o risco. A realidade é justamente o contrário: conversar sobre suicídio amplia a atenção, reduz o estigma e, para quem sofre, pode aliviar a angústia e a tensão desses pensamentos.
Também é fundamental desmistificar crenças equivocadas. Muita gente pensa que, se alguém fala sobre suicídio ou ameaça se matar, “não fará nada de fato” e estaria apenas “chamando atenção”. Isso não é verdade: quem fala sobre suicídio pode estar em alto risco e deve ser sempre ouvido. Outro mito perigoso é que “quem realmente quer se matar não avisa”. Na prática, é comum que pessoas em sofrimento sinalizem sua intenção a familiares, amigos ou profissionais antes de uma tentativa.
Alguns sinais devem acender o alerta no dia a dia: quando a pessoa diz que não vê esperança no futuro, fala sobre querer morrer, sente-se um fardo para os outros ou extremamente culpada, afirma estar encurralada sem solução para os problemas ou doa bens pessoais significativos. Esses sinais são oportunidades para agir e oferecer apoio.
Quem atravessa essa fase costuma enxergar o sofrimento como algo insuportável, sem saída e sem fim. Essa visão distorcida altera profundamente a forma como a vida é percebida e compromete a capacidade de decidir com clareza. Nesses momentos, o apoio externo é essencial: só com ajuda adequada a pessoa consegue interromper essa espiral de pensamentos e encontrar caminhos para superar a crise.
O fim do Setembro Amarelo não significa o fim do nosso compromisso. Se todos nós, durante todo o ano, estivermos atentos, acolhermos e quebrarmos o silêncio, podemos mudar esse cenário. Falar sobre suicídio não é perigoso. Silenciar, sim.
**Se você pensa em suicídio ou conhece alguém nessa situação, procure atendimento médico imediato ou ligue para o CVV – 188, serviço gratuito e disponível 24 horas. Sua vida importa. 
 
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