
por Sérgio Odilon Javorski Filho
No Brasil, o grito de independência veio antes da vontade de ser independente. Não foi a vontade do povo e continua não sendo. A vozeria das massas, no máximo, chancela leis ditadas de cima para baixo, pela imposição dos anseios das elites dominantes, lamentavelmente.
A independência do país, no dia 07 de setembro de 1822, teve relação direta com fatores políticos, econômicos e sociais, internos e externos, notadamente para a manutenção do poder elitista, agrário e comercial, ameaçado pela tentativa de recolonização portuguesa, com o fim das guerras napoleônicas. O ato foi influenciado e encorajado pela independência dos EUA (1776), da França (1789, com a Revolução) e, principalmente, das colônias espanholas na América Latina.
Em verdade, ninguém ouviu som algum. Tudo ocorreu na surdina, como qualquer outra intenção de tomada de poder já concretizada nos anais da história.
Como sempre, o povo de nada sabia. O brasileiro foi surpreendido com uma independência tão simbólica quanto o fato jamais ocorrido de bravura e amor à pátria. A outra versão que se conta, muito menos heroica, é que Dom Pedro estava com dor de barriga, razão pela qual foi obrigado a parar às margens do riacho Ipiranga para se aliviar.
A arte de tornar momentos simples e pouco glamorosos em mitos cinematográficos pelo brasileiro talvez tenha nascido da ausência de rebeldia de uma colônia declarada independente em meio a uma reviravolta intestinal.
O povo acostumou folclorear a própria tragédia mediante construções românticas e pseudo nacionalistas, a fim de se esquivar da trágica realidade pelo o que chama de independência nada mais ser do que a troca de uma liderança por outra, com a manutenção da escravidão, maquiada com a esperança de liberdade e autonomia.
A mente do brasileiro nunca se libertou. Continua servindo, mas a uma outra Corte, com iguais, como os de outrora. Vem daí o amor pelos EUA, cujo povo é tão serviu como qualquer outro. Os níveis mais baixos de dignidade são apátridas, sem limites territoriais. Seja no Brasil, na África ou em solo Norte Americano, as classes inferiores partilham da mesma dependente miséria de amar quem as exploram. Pera defender o próprio carrasco, se mata e se morre.
Ao invés de se comemorar a independência, mesmo por motivos diversos dos apontados, há anos, o brasileiro comemora a opressão entre os próprios subjugados, na arena onde inocentes divertem os culpados pela sua miserabilidade, gladiando entre si.
Quisera este povo trabalhador, explorado e iludido com narrativas fantasiosas, sustentasse a estigma de descendentes dos piores criminosos encaminhados para este solo tão fértil e tão atrasado quando se fala em liberdade individual e igualdade. A subordinação não seria tão facilmente implementada e mantida.
No ponto em que o cidadão pede a intervenção de outra nação na sua mais elevada Corte judicial, melhor seria tapar a boca a continuar gritando pela tal independência sufocante que faz o libertado sentir-se mal com o conquistado direito de ir, vir, permanecer e decidir seu destino.
As massas adoram ser conduzidas e, por consequência, ojerizam e rejeitam a liberdade que a independência efetivamente confere. Preferem permanecer deitados eternamente a lutar pelo tão aclamado berço esplêndido.