
Celebração vibrante da arte, da amizade e da liberdade criativa entre Amir Haddad e Renato Borghi, que completam 88 anos de vida e 70 anos de cumplicidade nos palcos, a peça Haddad e Borghi: Cantam o Teatro, Livres em Cena estreia em São Paulo em 29 de agosto, no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, após temporada de sucesso no Rio de Janeiro.
A liberdade é o eixo central da dramaturgia. “Nossa ideia é narrar, cantar e apresentar ao público um panorama com recortes da cena nacional, pelos olhos de dois homens de teatro, dois operários, trabalhadores contemporâneos, dois pensadores das artes, que não separam vida e teatro, teatro e vida”, diz o diretor Eduardo Barata, idealizador desse encontro inédito, no palco paulista, de Amir Haddad e Renato Borghi, mestres das artes cênicas e fundadores do Grupo Oficina, ao lado de Zé Celso. Barata lembra dos dois em sua casa, em março de 2024, quando O encanto e o projeto deram início: “Borghi, carioca da gema, tijucano, classe média alta. Já Amir, filho de pai sírio que vendia rapadura, nasceu em Guaxupé, no sul de Minas Gerais, cresceu em Rancharia, no interior de São Paulo, classe média baixa. Não tinha me caído a ficha de que, junto a Zé Celso, os três se conheceram e estudaram na Faculdade de Direito Largo São Francisco — e entraram para a história quando criaram o, então, Grupo Oficina”.
Escrito por Barata e Elaine Moreira, o texto foi concebido em dez encontros criativos presenciais com os protagonistas e parte da equipe artística. “É uma narrativa em trânsito, em ebulição e com imensa liberdade artística, assim como a trajetória de Amir e Renato. Tudo para homenagear estes gigantes da cena”, diz Elaine.
A montagem marca também a estreia de Amir Haddad como ator em uma temporada paulista. Como diretor, sua última montagem na cidade foi Antígona, estrelada por Andréa Beltrão em 2017.
Em cena, Amir e Renato percorrem temas como a existência, o ofício do ator, os diversos “Brasis” que os habitam, além de momentos marcantes deles, que somam quase dois séculos de experiência teatral. O elenco - Débora Duboc, Élcio Nogueira Seixas, Duda Barata e Máximo Cutrim - provoca a dupla a cada sessão, trazendo lembranças e referências de suas vidas dentro e fora dos palcos.
A peça dialoga com múltiplas linguagens - ópera, circo, artes visuais e carnaval - inspiradas em artistas como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Elis Regina, Zé Kéti, Braguinha, Emilinha Borba, Bizet, Donizetti e Charles Gounod.
Lembranças
“Eu e o Renato convivemos mesmo por muito tempo. São 70 anos de bem-estar e alegria ao lado dele. Fizemos um grupo de teatro juntos, faculdade, e também desistimos dela juntos. Renato é parte integrante. Agora é muito bom estarmos aqui reunidos, sou feliz de tê-lo conhecido e por termos caminhado tanto pela vida cultural brasileira”, diz Haddad.
Borghi relembra: “Amir é muito importante para mim. Quando eu comecei a fazer teatro, ele me dirigiu na peça do Zé Celso, A Incubadeira. Era para termos feito apenas por 15 dias e acabamos ficando seis meses. Foi o primeiro sucesso da minha carreira. Amir ficou com a gente nesse período, e foi um acontecimento, um assombro, ainda era meio amador. Depois, ele veio para o Rio, mas continuamos sempre em sintonia”.
Um dos fundadores do Teatro Oficina, Amir Haddad, ator, diretor e dramaturgo, é referência na valorização da cultura popular. Em 1980, criou o grupo Tá na Rua, que revolucionou a cena teatral ao levar espetáculos a espaços públicos, promovendo acesso democrático à arte. Sua abordagem combina improviso, crítica social e participação do público, rompendo barreiras entre palco e plateia. Reconhecido com diversos prêmios, Haddad é um dos principais nomes do teatro brasileiro contemporâneo, com atuação também como educador e pensador das artes cênicas.
Renato Borghi é um dos artistas mais destacados do Brasil, com três prêmios Molière e diversas honrarias. Fundou o Teatro Oficina em 1958 e realizou trabalhos marcantes, como
Pequenos Burgueses e
O Rei da Vela. Nos anos 1970, criou o Teatro Vivo, produzindo espetáculos de resistência à ditadura militar. Como dramaturgo, assinou peças de sucesso nos anos 1980, incluindo
Lobo de Ray-Ban e
A Estrela Dalva. Em 1993, fundou o Teatro Promíscuo com Élcio Nogueira Seixas, obtendo êxito com diversas montagens. Ícone do Tropicalismo, imortalizou-se com
O Rei da Vela e, em 2010, participou da Embaixada do Teatro Brasileiro, apresentando-se em 15 países.
Memória musical
A trilha da peça é executada ao vivo pelo Trio Júlio (que também assina a direção musical), com participações da cantora lírica Ananda Gusmão, das palhaças Lenita Magalhães e Renata Maciel (também sanfoneira) e, na semana de estreia, dos músicos Awane Borges (cavaquinho), Maira Ranzeiro (pandeiro e percussão) e Thiago Mota (violão).
O repertório percorre a obra de artistas essenciais para a construção do universo haddad-borghiano, como Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Arthur Miller (
Um Panorama Visto da Ponte), Gianfrancesco Guarnieri (
Eles Não Usam Black-tie), Oswald de Andrade (
O Rei da Vela) e Bertolt Brecht (
Galileu Galilei).
“Nossa abordagem para a direção musical partiu de uma busca afetiva. Queríamos criar uma trilha que fosse mais que acompanhamento. As memórias musicais de Amir e Renato, tão intimamente ligadas à Rádio Nacional, tornaram-se o coração do processo criativo. Desenvolvemos arranjos originais para violão de sete cordas, bandolim e percussão”, explica Maycon, do Trio Júlio.
A trilha passeia pela bossa-nova, samba-rancho, samba e tropicália, com clássicos interpretados pelos homenageados, como “Ave Maria no Morro”, “Se Acaso”, “Vaidosa”, “Minha Terra”, “Alegria, Alegria” e “Carinhoso”, ora em mono, ora em estéreo. A essas faixas somam-se três canções compostas para o teatro: “Canção do Jujuba” (Caetano Veloso,
O Rei da Vela), “Roda Viva” (Chico Buarque, espetáculo homônimo) e “Por Causa do Teatro” (Jonathan Silva,
O Que Nos Mantém Vivos), além de instrumentais exclusivos para o espetáculo.
Cenário e figurino
O universo cênico reúne cenário de Rostand Albuquerque e Barbara Quadros, figurinos de Rute Alves, iluminação de Ricardo Viana e Rodrigo Palmieri, pesquisa de Claudia Chaves e direção de movimento de Marina Salomon. Dois tronos móveis percorrem o palco, evocando a realeza dos homenageados, enquanto o espaço se transforma em camarim, com fotografias e objetos pessoais inspirados em Hélio Oiticica e Lygia Clark.
“A gente trabalhou em uma direção de movimento que tem a ver com a aura desses dois mestres: são estados de liberdade e sensibilidade com a escuta, a percepção do outro e da cena. A relação entre Amir e Renato e suas histórias se desdobra em cena de forma aberta, com a plateia como elemento ativo”, comenta Marina Salomon.
A figurinista Rute Alves mergulhou no universo teatral dos dois artistas, buscando referências no Tá na Rua, no Teatro Promíscuo, nas cores e brilhos do carnaval, além de inspirações em Oiticica e Lygia. “Eles precisam estar confortáveis em cena, e os figurinos refletem isso, com cores e brilho”, afirma Rute.
Imperdível
De 29 de agosto a 28 de setembro
Horário: Sextas e sábados, às 20h | Domingos, às 18h
Sessão vespertina: 25 de setembro, quinta, às 17h.
Local: Sesc Consolação – Teatro Anchieta (280 lugares)
Rua Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque - São Paulo- SP
Telefone: (11) 3234-3000
Duração: 120 minutos.
Classificação indicativa: 12 anos.
Valores dos ingressos on-line a partir de 19/8 (terça), às 17h, e nas bilheterias do teatro, dia 20/8 (quarta), às 17h
Ingressos: R$ 70,00 (inteira), R$ 35,00 (meia), R$ 21,00 (credencial plena)
Vendas on-line em
www.centralrelacionamento.sescsp.org.br e no app Credencial Sesc SP, e na bilheteria das unidades. Sempre a partir das 17h.