
Foto: Pâmela Leony, Assessora de Comunicação Grupo RB
A relação entre a Itália e a América Latina, construída ao longo de séculos por meio de fluxos migratórios e intercâmbios culturais, ganha cada vez mais relevância no cenário global. Países como Brasil e Argentina, que abrigam algumas das maiores comunidades de descendentes italianos no mundo, são protagonistas dessa conexão histórica que hoje se projeta para áreas estratégicas como economia, política e tecnologia.
Segundo a ex-parlamentar italiana e advogada internacional Renata Bueno, que representou a América do Sul no Parlamento Italiano, a cooperação entre os dois continentes “vai muito além da nostalgia e se consolida como essencial para o desenvolvimento mútuo”.
Herança cultural e laços históricos
Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiros tenham ascendência italiana. Na Argentina, o número também é expressivo. Essa herança, que se manifesta na gastronomia, nos costumes e até no idioma, é celebrada em eventos como o Ferragosto e reforçada por iniciativas de cidadania italiana.
Renata, presidente do Instituto Cidadania Italiana, destaca que a paixão dos ítalo-descendentes por manter viva essa identidade é um dos pilares do fortalecimento cultural. “Esses vínculos são uma ponte real entre povos e nações”, afirma.
Durante seu mandato como vereadora em Curitiba, Renata fundou o Grupo Parlamentar Curitiba/Itália, ampliando a interlocução política e cultural. No Parlamento Italiano, participou de projetos que aproximaram os países, como a adaptação da Lei Rouanet para financiar a restauração do Coliseu.
Economia e parcerias estratégicas
O fortalecimento econômico entre Itália e América Latina tem ganhado espaço nos últimos anos. O selo “Made in Italy” segue como sinônimo de inovação e qualidade, especialmente em setores como agricultura, moda, automotivo e tecnologia.
Um exemplo da integração produtiva é a Mozzarellart, empresa cofundada por Renata, que trouxe ao Brasil a tradição da burrata italiana, unindo gastronomia e empreendedorismo.
Outro marco é a parceria entre o Instituto Ítalo-Latino-Americano (IILA) e o CAF | Banco de Desarrollo, que vem ampliando investimentos em infraestrutura, sustentabilidade e tecnologia em países latino-americanos. “A troca de conhecimentos e recursos é fundamental para enfrentar desafios globais, como as mudanças climáticas e a desigualdade social”, observa Renata.
Diplomacia e cooperação política
Na esfera política, a Itália tem atuado de forma consistente na aproximação com a América Latina. A adesão do Brasil à Convenção da Apostila de Haia, que simplifica processos de cidadania e mobilidade internacional, foi uma das pautas defendidas por Renata no Parlamento.
O próximo grande marco dessa agenda será a 12ª Conferência Itália-América Latina e Caribe, programada para 7 de outubro, em Roma. O encontro reunirá líderes para discutir sustentabilidade, inovação e cooperação internacional.
Inovação e cooperação espacial
Um dos campos mais promissores dessa parceria é o da cooperação tecnológica e espacial. O subsecretário italiano do Ministério das Relações Exteriores, Giorgio Silli, destacou recentemente que “o espaço é o melhor instrumento de crescimento comum”.
Projetos conjuntos incluem avanços em telecomunicações, monitoramento ambiental e defesa. A colaboração entre a Scuola Superiore Sant’Anna (Itália) e a Universidade Federal de Uberlândia (Brasil), que resultou no desenvolvimento de pele artificial, mostra o potencial da ciência como elo entre continentes.
Perspectivas
Para Renata Bueno, a manutenção e ampliação dessa relação é uma decisão estratégica para a Itália. “A América Latina não é apenas um destino de imigração ou um mercado consumidor, mas um parceiro ativo na construção de um futuro mais sustentável e inovador.”
A expectativa é que a Conferência em Roma consolide novas frentes de cooperação e fortaleça a presença italiana na região.