
Foto de Zhen Yao na Unsplash
por Luiz Felipe Leprevost
Eu adoro pinguim. Já utilizei a figura do pinguim como metáfora muitas vezes em poemas e contos. Até criei literariamente A Rua dos Pinguins Tristonhos, que é na verdade a nossa Rua XV de novembro.
Pinguim é o poeta das sinfonias dos iceberg. Pinguim são o preto e branco mais colorido dos mares. Colônias de pinguins da Antártida têm perdido seu lares devido ao derretimento das geleiras. Isso é grave para todos nós, não só para eles.
Por tudo isso fiquei tão triste com o que aconteceu nas férias de julho. Estava na praia com a família. Minha enteada foi a primeira a notar o corpinho na areia. Ela se aproximou lentamente, seguida por mim, meu filho e minha esposa.
Um pinguinzinho jazia tombado, um dos bracinhos levantados, rijo. Minha esposa falou com voz triste: “Tadinho, veio de tão longe para morrer em Guaratuba.” Meu filho, do alto de seus dois anos e meio, perguntou se o pinguinzinho tinha se perdido da família dele e se ele não ia mais voltar para casa. Dissemos, lamentando, que sim, tinha se perdido. E que não, não retornaria.
Aquela fatalidade tomou conta do imaginário das crianças ao longo das férias. Na internet mostrei para elas pinguins e seus colônias. Propus assistirmos a animação Os Pinguins de Madagascar, mas não quiseram.
Pesquisando, descobri que aquele que tínhamos presenciado era um cenário comum. Os pinguins-de-Magalhães geralmente saem da colônia em abril e retornam em outubro. Então, durante os meses de inverno migram para o litoral sul brasileiro, vindo dar também em praia paranaenses. No percurso, muitos deles se desorientam e encalham nas praias em busca de abrigo.
“É uma migração comum”, diz ela, “acontece anualmente, o que varia é o número de pinguins que chegam à costa a cada ano, vários fatores influenciam, desde as correntes até a indisponibilidade de alimento, é como uma corrida mesmo, eles nascem, vão para a água e de repente aqueles que estão aptos conseguem ir e voltar para a colônia, mas têm os que infelizmente sucumbem.”
O pinguinzinho que encontramos nas areias do Brejatuba era provavelmente um desses. Durante a migração ficou debilitado. Talvez, ao se perder do grupo, ingeriu lixo jogado no oceano, circunstância que possivelmente provocou a sua morte.
Enquanto o observávamos, pude sentir a solidão oceânica que aquela pequenina criatura teve que enfrentar. Viajou de tão longe para encontrar seu fim em uma praia desconhecida. Minha esposa, minha enteada e meu filho também se afetaram pela trágica condição. Pude ver a compaixão em seus olhos. Propus às crianças que déssemos um nome para ele e que rezássemos uma pequena oração por sua alma.
E foi assim que nos despedimos do nosso amigo Chiquinho Bubuli.