
por Sérgio Odilon Javorski Filho
Na última semana, parlamentares ligados ao Partido Liberal (PL) pouparam a nação de suas asneiras comumente disparadas dentro do Senado Federal e da Câmara dos Deputados.
O bizarro ato de colocar esparadrapos nas suas bocas foi computado como manifestação contrária à decretação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, em razão do descumprimento das medidas cautelares diversas impostas por Alexandre de Moraes.
A situação tomou proporção caricatural, para aqueles que ainda conseguem enxergar graça no lamentável comportamento de muitos representares do povo e dos estados nos Poder Legislativo. O problema maior, sob esta perspectiva, é tornar-se piada pronta dentre outros representantes mundiais e, com isto, prejudicar ainda mais a imagem do país perante investidores, assustados com a instabilidade institucional do país.
Não se engane. Mesmo com todo o racha político gerado pela polarização dos discursos, os correligionários ainda pensantes, de um lado e de outro, estão fartos desta disputa por reinado. Um Estado Democrático de Direito não funciona na base de ameaças, gritaria e birras. O buraco é bem mais embaixo. O aparelho estatal é preparado para dissuadir qualquer ideia que tenha por objetivo interferir na independência e na autonomia de cada um dos poderes da República. Os responsáveis pela edição das leis já deviam saber disso.
O espetáculo público da problematização de tudo que não convém tomou conta da bancada do PL, que não mais admite que o país prossiga contra seus ideais de administração, justiça e execução de atos públicos. Os conceitos de soberania e intervenção foram distorcidos de tal forma que patriotismo passou a ser sinônimo de submissão ao controle do presidente dos EUA, o respeito às leis converteu-se em ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal, sempre que julgam de maneira diversa da pretendida pelos radicais, tampouco o agro foi poupado nesta revoada, com o tarifaço aplaudido de pé pelos falsos patriotas.
Essa gente não se entende, age conforme o som da trombeta. São como os zumbis da série “The Walking Dead”, estão onde há barulho e se alimentam da ingênua esperança do povo. Quando menos se espera, um deles morde o braço, a perna ou a cabeça dos próprios correligionários. “Farinha pouca, o meu pirão primeiro”.
Na Odisseia de Homero, a bruxa Circe alertou Odisseu sobre o perigo das sereias na sua jornada de volta a Ítaca, cujo canto hipnótico atraia os navegantes, levando-os a naufragar nas suas ilhas. Para evitar a morte, Odisseu tapou os ouvidos da sua tripulação com cera e ordenou que o amarrassem ao mastro do navio, garantindo que pudesse ouvir o canto, sem sucumbir a ele.
O eleitor está mais do que experimentado na arte de ouvir a melodia dos políticos e nada aprender em séculos de dor, sofrimento e angustia. Há um masoquismo popular em acreditar na conquista da paz pela guerra, da serenidade com a violência, da educação com o desrespeito, da coragem com a covardia disfarçada de imunidade parlamentar.
Havia muito tempo que o país não tinha um dia tão tranquilo sem as asneiras proferidas nas Casas Legislativas. A pauta para a próxima lei deveria ter como tema “O dia do esparadrapo”. Tão pequeno, mas tão eficiente. Por horas, poupou a todos do canto contraproducente do radicalismo. Cada vez que eles abrem suas bocas, entregam uma parte, material ou imaterial, do Brasil para um estrangeiro qualquer.