
Foto de Karl Fredrickson na Unsplash
por Luiz Felipe Leprevost
— A cabeça da vovó tá presa, a cabeça da vovó não tá livre das coisas.
O vovô Totono virou estrelinha. Quando ele não virar mais estrelinha, ele vai me pegar no colo?
Mamãe, todo mundo é hoje, mamãe?
— Eu também quero ir.
— Espera com o papai no carro, a mamãe vai na farmácia rapidinho e já volta.
— Eu vou ficar grande aqui, papai?
— Vai sim.
— Quando eu ficar grande aqui eu também vou poder ir na farmácia rapidinho igual a mamãe?
O menino, dois aninhos, escala o pai, gordo que só. Sobe no pescoço. Pisa na cara. Pula lá de cima.
— Ai minha barriga.
— Não é barriga, papai.
— Não?
— Não, é meu sofazão.
O tio Bolha e o tio Grandãozalão!
— Eu quero pentcha o pecoço da arvorezinha, quero pentcha o pecoço arvorezinha, papai.
O pai coloca o piazinho sentado no cangote.
— Aqui em cima, olha eu pai, pentchando o cabelo das folhinhas.
— Agora vamos fechar o livro e vamos nanar.
— Não quero que o livro vai nanar agora, papai.
— O que você tá fazendo com esse dedo, piazinho?
— Tô ajudando a meleca sair, a meleca tá com vergonha de sair.
— Quero comer tangerica.
— Tangerina?
— Tangerica, pai.
— Ah, mexerica?
— Não, já falei, pai, tangerica.
— Eu quero que o papai toma banho em mim.
— O que é isso na mão dela, ela usa nuvem na mão, mamãe?
— Você fez pum? Eu gosto que você faz muito pum de barulho, tio Grandãozalão.
— Desce mais, papai, quero tomar suco na sua cabeça.
— O que meu pai fazeu, mãe?
— Eu parece um vovô bebendo suco devagarzinho.
O piazinho apertando as bochechas do pai, puxando a barba:
— Pai. Meu. Meu papai. Meu fofinho. Fofifinho.
Chorando.
— O que aconteceu, filho?
— A minha irmãzinha me doeu.
— O que você colocou na boca, filho?
— Nada… só arco-íris.
— Você é meu bebê.
— Não sou bebê, vovó, eu sou pirata Zumilo.
— Na minha casa tem pocotó, tem capivara. Na casa do Ico só tem pocotó, não tem capivara.
— Quem é esse, papai, o bebê Antônio que é eu bebê de verdade?
— Antônio, vamos nanar?
— Não não não.
— Como assim? Por que não?
— Porque tô com fome.
— Ué, você acabou de jantar.
— Tô com fome de Patrulha Canina, papai.