Conversas com Antônio
11/08/2025 às 05:30
Foto de Karl Fredrickson na Unsplash
por Luiz Felipe Leprevost

— A cabeça da vovó tá presa, a cabeça da vovó não tá livre das coisas. 
 O vovô Totono virou estrelinha. Quando ele não virar mais estrelinha, ele vai me pegar no colo?
Mamãe, todo mundo é hoje, mamãe? 
— Eu também quero ir. 
— Espera com o papai no carro, a mamãe vai na farmácia rapidinho e já volta.
— Eu vou ficar grande aqui, papai? 
— Vai sim.
— Quando eu ficar grande aqui eu também vou poder ir na farmácia rapidinho igual a mamãe?

O menino, dois aninhos, escala o pai, gordo que só. Sobe no pescoço. Pisa na cara. Pula lá de cima. 
— Ai minha barriga. 
— Não é barriga, papai. 
— Não? 
— Não, é meu sofazão. 

O tio Bolha e o tio Grandãozalão! 
— Eu quero pentcha o pecoço da arvorezinha, quero pentcha o pecoço arvorezinha, papai. 

O pai coloca o piazinho sentado no cangote.  
— Aqui em cima, olha eu pai, pentchando o cabelo das folhinhas.
— Agora vamos fechar o livro e vamos nanar. 
— Não quero que o livro vai nanar agora, papai. 
— O que você tá fazendo com esse dedo, piazinho? 
— Tô ajudando a meleca sair, a meleca tá com vergonha de sair.
— Quero comer tangerica.  
— Tangerina? 
— Tangerica, pai. 
— Ah, mexerica?
— Não, já falei, pai, tangerica. 
— Eu quero que o papai toma banho em mim. 
— O que é isso na mão dela, ela usa nuvem na mão, mamãe? 
— Você fez pum? Eu gosto que você faz muito pum de barulho, tio Grandãozalão.
— Desce mais, papai, quero tomar suco na sua cabeça.
— O que meu pai fazeu, mãe? 
— Eu parece um vovô bebendo suco devagarzinho. 

O piazinho apertando as bochechas do pai, puxando a barba: 
— Pai. Meu. Meu papai. Meu fofinho. Fofifinho. 

Chorando. 
— O que aconteceu, filho? 
— A minha irmãzinha me doeu. 
— O que você colocou na boca, filho?
— Nada… só arco-íris. 
— Você é meu bebê.
— Não sou bebê, vovó, eu sou pirata Zumilo. 
— Na minha casa tem pocotó, tem capivara. Na casa do Ico só tem pocotó, não tem capivara. 
— Quem é esse, papai, o bebê Antônio que é eu bebê de verdade? 
— Antônio, vamos nanar?
— Não não não. 
— Como assim? Por que não?
— Porque tô com fome. 
— Ué, você acabou de jantar.
— Tô com fome de Patrulha Canina, papai.
Comentários    Quero comentar
* Os comentários não refletem a opinião do Diário Indústria & Comércio