Quando a economia com painéis elétricos pode custar vidas
08/08/2025 às 17:17
Fábio Amaral, engenheiro eletricista
Por Fábio Amaral, engenheiro eletricista, sócio e diretor da Engerey Painéis Elétricos

A pergunta pode parecer dura, mas precisa ser feita sempre que uma indústria decide economizar justamente no que protege quem está na linha de frente — quem opera, faz a manutenção e mantém tudo funcionando. Quanto custa a vida de quem trabalha na indústria?
Pense, por exemplo, em um dos equipamentos mais importantes de uma planta industrial: o painel elétrico. É ele que concentra boa parte da inteligência e da segurança da operação. E quando falamos em segurança, não há espaço para improvisos.
Por isso, optar por um painel certificado é fundamental. Isso significa que o equipamento foi testado e aprovado de acordo com normas técnicas rigorosas, como as da IEC (Comissão Eletrotécnica Internacional) ou da ABNT, no Brasil. Ele recebe essa designação porque passou por uma série de ensaios laboratoriais padronizados, que atestam sua segurança, confiabilidade e desempenho, mesmo em condições extremas.
No entanto, para que tudo isso seja garantido, é necessário um investimento significativo — e com toda razão. Para que um fabricante consiga atender a todas as exigências das normas internacionais, o custo para realizar todos os testes pode chegar a R$1 milhão! E muitas vezes, a aprovação não ocorre na primeira tentativa. Isso mesmo: estamos falando de centenas de milhares de reais investidos para garantir que barramentos, dispositivos de proteção e toda a estrutura do painel sejam capazes de suportar curtos-circuitos, falhas na rede elétrica e até mesmo a ocorrência de arcos elétricos dentro do sistema, que podem gerar temperaturas elevadíssimas, danificar equipamentos e representar sérios riscos à segurança dos profissionais.
A escolha de instalar um painel certificado ou não vai muito além do custo. Trata-se de uma escolha sobre o que a indústria valoriza: atender às leis vigentes de segurança, zelar pelo patrimônio e acima de tudo pela vida de seus profissionais que estejam em contato direto ou não com este equipamento. Por exemplo, quando for necessário realizar uma manutenção, abrir a porta do painel ou operar com a linha de produção em funcionamento, um painel certificado pode ser a diferença entre um susto e uma tragédia. Isso porque um painel certificado é, no fundo, um seguro de vida. Ele é testado para conter explosões, evitar incêndios e proteger contra choques elétricos fatais caso algo saia do controle. Ele é projetado para salvar vidas.
Quantas vidas cabem em uma economia de curto prazo? Vale a pena arriscar a segurança dos profissionais em nome de uma redução de custo no investimento inicial? Essa teoria, inclusive, não se sustenta na prática. Um exemplo claro é o impacto direto nas apólices de seguro: quando uma indústria não utiliza painéis certificados, o valor do seguro pode aumentar consideravelmente — ou até ser negado — devido ao maior risco envolvido.
Estima-se que ocorram cerca de 4.400 mortes anuais em todo o mundo devido a lesões elétricas, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sendo esse número especialmente elevado em países de baixa e média renda, onde a infraestrutura elétrica e os padrões de segurança são frequentemente inadequados. Inclusive, na maioria dos países da Europa, 100% desses equipamentos possuem certificação — não existindo sequer a possibilidade de comercialização sem esse requisito.
De acordo com a Electrical Safety Foundation International (ESFI - https://www.esfi.org/electrical-fatalities-in-the-workplace-2011-2023), que analisou fatalidades elétricas no local de trabalho entre 2011 e 2023, as principais causas dessas mortes incluem o contato com equipamentos energizados, responsável por 12,7% dos incidentes — cerca de 69 mortes no período, considerando o total de 544 casos registrados — e o trabalho em partes energizadas, que corresponde a 4,1% das fatalidades, aproximadamente 22 mortes nesse intervalo.
Sempre acreditei que nada é mais valioso do que a vida. Por isso, defendemos com firmeza o uso de painéis elétricos certificados — que seguem normas rigorosas, utilizam materiais e equipamentos de procedência comprovada e passam por testes que asseguram o mais alto padrão de segurança. Ainda assim, no Brasil, apenas 40% dos painéis são certificados, o que expõe milhares de indústrias a riscos desnecessários. Optar pela certificação é investir na proteção das pessoas, na continuidade dos processos e na integridade das instalações.
Afinal, pra você, quanto custa uma vida?
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