
As tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entraram em vigor na última quarta-feira. A medida atinge 35,9% das mercadorias enviadas ao mercado norte-americano, o equivalente a cerca de 4% das exportações totais do Brasil.
PRODUTOS
Entre os produtos que passam a pagar a sobretaxa estão café, frutas e carnes. Por outro lado, aproximadamente 700 itens ficaram de fora do tarifaço, como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves civis (motores, peças e componentes), polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia e produtos energéticos.
PRINCIPAIS EFEITOS
O economista-chefe da Análise Econômica de São Paulo, André Galhardo, avalia que os principais efeitos da medida já começam a ser sentidos no curto prazo, com possíveis consequências inflacionárias ou desinflacionárias no país. “Alguns produtos cujo remanejamento das exportações é mais difícil, por questões sanitárias ou logísticas — como frutas — podem apresentar uma sobreoferta no mercado interno. Se não exportarmos mais ou reduzirmos significativamente o volume enviado aos Estados Unidos, dificilmente encontraremos outro mercado disposto a comprar esse excedente em tempo hábil, antes que esses produtos estraguem”, explica Galhardo. Segundo ele, essa sobreoferta pode pressionar os preços para baixo e, assim, contribuir para uma desaceleração da inflação no Brasil. “Acho que os primeiros impactos de curto prazo são esses: uma diminuição, ainda que temporária, da inflação”, afirma.
BOLSO DO CONSUMIDOR
O tarifaço pode afetar diretamente o bolso do consumidor brasileiro. Com mais produtos disponíveis no mercado interno, os preços tendem a cair. No entanto, Galhardo alerta que essa relação não é automática. “Alguns exportadores de carne bovina, por exemplo, deixaram de abater animais para equilibrar a oferta e a demanda, já que agora exportam menos para os Estados Unidos. No caso das frutas, se não houver nenhum movimento para ‘queimar’ os estoques, certamente haverá maior oferta ao consumidor brasileiro, o que pode contribuir para a desaceleração da inflação, atualmente acima do teto da meta”, conclui.
EFEITO INDIRETO NA ECONOMIA
O economista também destaca que os impactos vão além dos setores diretamente atingidos, como o café e a carne bovina. De acordo com ele, é inadequado relativizar os efeitos da medida neste momento. “Claro que os produtores de café e os frigoríficos serão afetados, mas não apenas eles. Existem efeitos indiretos que podem se propagar pela economia. Embora represente uma fração do Produto Interno Bruto, o aumento das tarifas pode ter impacto no câmbio e provocar uma redução no nível de atividade econômica de forma indireta, por meio de um efeito transbordamento”, observa.
EFEITO SOBRE O CÂMBIO
Galhardo ainda avalia que “o processo de valorização da moeda brasileira pode ser suavizado ou até mesmo revertido ao longo das próximas semanas”, devido às barreiras tarifárias. Com menos exportações, há uma redução na entrada de dólares no país, o que pode afetar o fortalecimento do real observado desde o início de 2025. (Fonte: Brasil 61)
CAFÉ: SETOR ACREDITA EM REVERSÃO
Agentes de mercado consultados pelo Cepea apontam que a tarifa adicional de 50% sobre as exportações brasileiras de café aos Estados Unidos ainda não é um fato consumado, podendo haver uma definição mais clara nos próximos dias. Segundo o Centro de Pesquisas, a expectativa é reforçada pela pressão exercida por empresas norte-americanas interessadas na manutenção do suprimento regular de cafés brasileiros, insumo essencial na composição de blends industriais.
BRASIL: PRINCIPAL FORNECEDOR
O Brasil é responsável por fornecer cerca de 25% do café importado pelos EUA e é o principal fornecedor da variedade arábica, insumo base para a indústria local de torrefação. Quanto aos preços no mercado doméstico, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista, perdeu 22,49 Reais/saca de 60 kg (ou baixa de 1,2%) no acumulado de julho, encerrando o mês a R$ 1.811,87/saca.
RETRAÇÃO
No campo, a colheita caminha bem e se aproxima de 70% a 80% da produção esperada. Para o robusta, levantamentos do Cepea mostram que as cotações recuaram com um pouco mais de força, pressionadas pela maior oferta interna. O Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6, peneira 13 acima, a retirar no Espírito Santo, caiu 76,62 Reais/saca de 60 kg (retração de 6,9%), fechando a R$ 1.028,45/saca no dia 31 de julho. A colheita do robusta está finalizada na maior parte das praças do Espírito e de Rondônia.
SOJA EM BAIXA NO PARANÁ
O valor da saca de 60 kg da soja, na quinta-feira passada, registrou baixa tanto no interior do Paraná quanto no litoral do estado, em Paranaguá.
Na primeira região, o grão teve baixa de 0,32% e foi negociado a R$ 132,89; enquanto, na segunda, a redução foi de 1,52%, com a mercadoria cotada a R$ 138,83.
TRIGO
O preço do trigo, por sua vez, registrou estabilidade no Paraná, com a tonelada negociada a R$ 1.451,25. Por outro lado, no Rio Grande do Sul, o grão apresentou baixa de 0,21%, sendo comercializado a R$ 1.298,68. (Fonte: Brasil 61)
BOI: EXPORTAÇÕES
ATINGEM NOVO RECORDE
As exportações brasileiras de carne bovina atingiram recorde em julho. Pesquisadores do Cepea reforçam que essa informação foi confirmada pela Secex na quarta-feira passada, dia em que entrou em vigor a nova tarifa dos Estados Unidos para a importação de carne bovina brasileira, de 50%. Em julho, foram exportadas 310,2 mil toneladas, 15,3% a mais que em junho e 4% acima do então recorde alcançado em outubro/24, de 298,24 mil toneladas (in natura e processada). A receita também atingiu máxima histórica, na marca de R$ 9,2 bilhões.
VOLUME EXPORTADO
Para os EUA, o volume exportado foi praticamente o mesmo de junho, 18.235 toneladas – aumento mensal de 2 toneladas –, mas sua participação no total das vendas brasileiras baixou de 6,8% em junho para 5,9% em julho. Já a China aumentou sua participação de 50% para 51,1% do total, elevando em 14,8% (ou 23.952 toneladas) o volume de um mês para outro.
OUTROS DESTINOS
Pesquisadores do Cepea indicam que vários outros destinos também ampliaram suas compras. Segundo pesquisadores do Cepea, os resultados de julho mostram que, em resposta à imposição da tarifa norte-americana, as indústrias exportadoras nacionais se movimentaram e obtiveram êxito em seus esforços para intensificar as vendas a outros destinos, além do que algumas devem realocar a relação comercial com os EUA para unidades que detêm em outros países não impactados por tamanha tarifa.
SUÍNOS: VALORES REAGEM
NESTE INÍCIO DE AGOSTO
Os preços do suíno vivo caíram de junho para julho na maior parte das praças acompanhadas pelo Cepea. Segundo pesquisadores do Centro de Pesquisas, ao longo do mês passado, a demanda por novos lotes de suíno vivo esteve enfraquecida, o que, por sua vez, está atrelado ao recesso escolar e, em certa medida, à imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos às exportações brasileiras – o tarifaço elevou as especulações por parte de alguns agentes do mercado independente e dificultou possíveis reações nos valores. Já neste começo de agosto, os valores passaram a reagir. Pesquisadores do Cepea indicam que o suporte vem do aquecimento na procura. Ressalta-se que o movimento de reação vem sendo verificado na maior parte das praças acompanhadas pelo Centro de Pesquisas.