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Aos 86 anos, o austríaco Fritjof Capra, mundialmente popular com o livro O Ponto de Mutação (The Turning Point, editado em 1982), pode ver agora suas ideias filosóficas da física “aplicadas” na moda. A percepção é dos designers brasileiros durante suas pesquisas de tendências para a temporada de 2027 no mercado coureiro.
Os couros e laminados resultantes da pesquisa batizada por The Turning Point foram descritos por Walter Rodrigues e Marney Carminatti, profissionais do Núcleo de Design e Pesquisa da Assintecal- Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos. No Preview do Couro 2027, um dos espaços de destaque no salão de matérias-primas Inspiramais, realizado neste mês em São Paulo, os lançamentos ilustram os temas Gasoso e Ruptura e seus subtemas.
O Gasoso, composto pelas vertentes Biológica e Holística, apresenta couros com fluidez, texturas orgânicas, impressões 3D que remetem ao etéreo (ar, vapor, luz e emoção). Em Ruptura ou “revisão da forma’, a inspiração respeita, mas subverte bases clássicas e propõe construções tridimensionais, dobras abruptas, desconstruções e sobreposições.
Para não dizer que os designers não falaram de cores, a palheta traz azuis, amarelos, laranjas, verdes escuros e roxos. Marney Carminatti sintetiza: “Couros e laminados sob no subtema Biológico surgem gasosos, de cores suaves. Na Ruptura, a superfície é manchada, craquelada, cores contrastantes “.
E onde está Capra nisso tudo? Está nisso tudo quando se observa que “nesses tempos de algoritmos que homogeneíza tudo, se faz necessária uma transformação, uma resposta potente que trata de recuperar a individualidade, a identidade, a emoção e a liberdade para ser o que se queira ser”, conjectura Walter Rodrigues.
Em harmonia com a Esperança, fonte inspiradora para 2026, Ponto de Mutação de 2027 propõe uma resposta crítica ao pensamento de René Descartes, tal qual Capra filosofava nos anos 80. Walter Rodrigues lembra que décadas depois do lançamento do famoso livro “a história se repete. O visionário Capra previa uma revolução a partir da ciência que incluiria novos conceitos de espaço, de tempo e de matéria. Hoje acrescentamos a visão de Francesco Morace que diz que estamos, de fato, no meio de uma metamorfose. Vivemos uma evaporação numa sociedade cada vez mais volátil, etérea e efêmera”. Isto é, o conceito temporal do sociólogo polonês Zygmunt Bauman para designar o pós 1960 também vai por água abaixo. Repara Rodrigues: “As redes sociais transformaram a modernidade líquida,de Bauman em uma modernidade gasosa”.