Conversas difíceis não encerram relações, elas fortalecem vínculos. Dizer o que precisa ser dito é um ato de coragem e cuidado.
Na vida pessoal, profissional ou afetiva, ninguém escapa das famosas DRs. Mas, ao olharmos com mais atenção, percebemos que essas discussões são, na verdade, conversas difíceis. Podem se transformar em oportunidades para dizer verdades esquecidas ou escondidas, com o objetivo de reconstruir, alinhar e compreender as necessidades próprias e as do outro.
“Uma conversa difícil carrega o que não foi dito, o que foi engolido, o que ficou guardado por medo de ferir ou de ser mal interpretado”, explica Ana Adad, que tem mais de 30 anos de carreira em comunicação e na liderança de grandes empresas e é autora do livro “Comunicação Curativa” (edição independente). “É por isso que, muitas vezes, o que torna uma conversa difícil não são as palavras, mas o silêncio acumulado”, diz.
Para ela, o medo de confrontar, a insegurança de que o outro não vai suportar o que será dito ou mesmo a expectativa idealizada sobre quem temos à frente transformam a conversa em um campo de tensão. “Confundimos franqueza com rejeição. E, nesse emaranhado, deixamos de falar o que precisa ser dito ou, pior, dizemos o que não precisava ser dito”, salienta Ana.
Para quem vai embarcar em uma conversa difícil, independentemente dos motivos, a psicologia traz uma pista importante: regular as próprias emoções é essencial para conseguir dialogar com empatia e firmeza. Isso significa reconhecer os próprios gatilhos — o que nos deixa com raiva, medo, tristeza ou frustração, por exemplo — e também perceber o que o outro está sentindo. “Mais do que falar bem, é preciso sentir com clareza o que está sendo dito”, afirma Ana.
Como se preparar
É por isso que conversas difíceis exigem preparo. Elas pedem um terreno fértil, emocionalmente seguro, para que possam florescer. Não basta coragem: é preciso cuidado. “Quando saímos do piloto automático, criamos espaço para transformar desentendimentos em alinhamento”, completa Ana.
A liderança contemporânea também tem aprendido com isso. Líderes que sabem escutar, que estabelecem conversas honestas com suas equipes, constroem relações de confiança e pertencimento. E, muitas vezes, essa capacidade de conversar com verdade é o que diferencia um chefe de um líder de verdade.
Como lembra Ana: “A conversa difícil não é o problema. O problema é não conversar”. E, se for para mudar, que seja começando pela escuta e pela coragem de ser honesto com delicadeza.
Para Ana Adad, existem passos práticos que ajudam a encarar esses momentos com mais presença e autenticidade. Abaixo, ela compartilha 5 dicas fundamentais para transformar conversas difíceis em oportunidades de crescimento mútuo:
5 DICAS PARA TER UMA CONVERSA DIFÍCIL
1. Comece por você
Antes de qualquer coisa, regule suas emoções. Entenda o que está sentindo e por quê. Isso evita que a conversa vire um desabafo impulsivo.
2. Vá direto ao ponto
Seja claro e objetivo. Mantenha o foco no que precisa ser resolvido, sem misturar o pessoal com o profissional.
3. Escute mais do que fala
Ouvir com atenção é um ato de respeito. Evite frases prontas ou julgamentos. Deixe que o outro também se expresse.
4. Reconheça as emoções em jogo
Perceba como o outro está se sentindo. Validar emoções é uma forma de corregular, ou seja, ajudar o outro a se autorregular também.
5. Tenha um objetivo claro
Entre na conversa com a intenção de chegar a um acordo. Saia dela com um compromisso de mudança. E cumpra.