por Sérgio Odilon Javorski Filho

Decisão da Justiça não se discute, cumpre-se. Um estudante do curso de Direito do período inicial da faculdade sabe disso, o ex Presidente da República, não.
O contrato social cuida-se de financiamento
ad aeternum, cujo pagamento se dá mediante a observância ininterrupta e indiscutível da lei. Qualquer derrapada fora das margens do ordenamento jurídico, desde que a infração afronte cláusula previamente estabelecida, deve ser processada, julgada e, caso apurada culpa, punida, com menor ou maior rigor, conforme a gravidade do ato violador.
Talvez seja a primeira vez na história do país que seu tribunal mais relevante tem a imagem vilipendiada constantemente por relevante parcela popular. Não há dúvidas de que se instalou no país uma guerra ligada à política nacional em prejuízo da saúde interna e externa da nação. Acirrou-se perigosamente a luta entre os 3 Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), cujo objetivo atual – prevalência de um sobre outro –, desvia-se da finalidade do modelo constitucional e democrático equilibrado, marcado pela convivência harmônica e independente entre eles.
Em um país com instabilidade política incessante, o inimigo desperta seu interesse adormecido para marcar território e, se possível, dominar a área, com a imposição de sua cultura, em detrimento aos costumes e liberdades locais. Os Estados Unidos da América são
experts em aproveitarem-se de momentos sensíveis para, depois que a nação visada estiver exausta e fragilizada, avançar irremediavelmente em marcha de dominação. O tarifaço não é por liberdade. Trump não ama ninguém acima da sua fortuna e soberania.
O Brasil é a presa perfeita, desgastado visivelmente por não aceitar a alternância do poder. Desaprendeu-se a perder. Antigamente, a derrota vinha acompanhada de muito aprendizado para a próxima eleição. Hoje, não. Se não for para ganhar na urna, tem que ser no berro e pancadaria. No fatídico 8 de janeiro, quadros e esculturas valiosas foram destruídas. Sobrou até para o brasão da república e para o quadro de Di Cavalcanti avaliado em 8 milhões de reais. Conscientemente manipulada, a ignorância é uma arma mais potente do que qualquer míssil, uma vez que arrebenta o país de dentro para fora.
Há um ano da eleição para presidente, ao invés de se fortalecer e criar novas estratégias, o eleitorado insatisfeito chora lágrimas vergonhas por não aceitar a derrota momentânea. Em um sistema político, o jogo vira de tempos em tempos, inevitavelmente.
É lamentável que o pranto seja unicamente quando uma águia é ferida. Na base, o povo sofre, tem baixas diárias, tortura-se para manter um sistema de castas que o prejudica dia após dia. Ninguém mais reclama da lei aprovada madrugada a dentro no Congresso e dos benefícios criados desnecessariamente para enriquecer ainda mais os poderosos. Toda esta insatisfação por uma tornozeleira eletrônica, que o ex presidente concordou utilizar. Teve a opção de recusar e ir preso. Mais uma vez prometeu e não cumpriu. É o seu
modus operandi. Agora, terá que ficar em casa, sem telefone nem fofoca na internet. O destino é cruelmente vingativo. Tivesse defendido o slogan “não saia” na pandemia, hoje estaria livre, leve e solto, como Chefe de Estado no Palácio da Alvorada.