Um bigode que não sai de moda: conheça a obra de Paulo Leminski, homenageado da Flip
Foi poeta, escritor, tradutor, ensaísta, músico, grafiteiro, agitador, professor, publicitário, jornalista, judoca e um pouco mais.
30/07/2025 às 02:07
Foto: Nani Gois/Instituto Paulo Leminski

Um “polaco loco paca”, um “kamiquase” ou até mesmo um “cachorro louco”. Vem de seus próprios textos alguns adjetivos que talvez melhor descrevam Paulo Leminski. O poeta curitibano, que em agosto completaria 81 anos, será o homenageado na edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). O maior evento literário brasileiro e um dos principais da América Latina acontece entre os dias 30 de julho e 3 de agosto, na cidade litorânea do Rio de Janeiro.

Assim como os epítetos, também são muitos os títulos: poeta, escritor, tradutor, ensaísta, músico, grafiteiro, agitador, professor, publicitário, jornalista, judoca e um pouco mais. Um “múltiplo Leminski”, como foi batizada a exposição em sua homenagem que esteve em cartaz no Museu Oscar Niemeyer (MON), entre 2012 e 2013, e passou por 10 cidades, sendo vista por mais de 600 mil pessoas.

“Meu pai era um artista absolutamente multifacetado e à frente do seu tempo. Foi precursor de uma linguagem que é muito comum hoje, especialmente nas redes: objetiva, concisa, direta ao ponto. Ele dizia o máximo com o mínimo – e fazia isso com humor, ironia, leveza e uma profundidade impressionante”, afirma Estrela Ruiz Leminski, filha do autor com a também poeta Alice Ruiz. “Mas para além da forma, ele era um pensador de cultura, que transitava com naturalidade entre o erudito e o popular. Ele foi muitas coisas e, em tudo isso, foi inovador”.

Esse caminho aberto por Leminski em muitas áreas se tornou uma inspiração para as gerações seguintes de escritores, principalmente em Curitiba. “Para nós, que produzimos poesia e literatura, o Leminski é um farol, uma grande luz que emana com a sua multiplicidade e capacidade de ação”, afirma o também escritor Luiz Felipe Leprevost, diretor da Biblioteca Pública do Paraná (BPP).

“Ele era altamente erudito, criativo e popular, tanto na poesia que fez em forma de canção como naquela que entrou nos livros. Ele tem uma obra aberta que está sempre sendo redescoberta, é um bigode que nunca saiu de moda”, brinca.

Curitibano por excelência, um “pinheiro que não se transplanta”, como ele mesmo dizia, Paulo Leminski Filho nasceu em 24 de agosto de 1944 na cidade que tanto se traduz em sua obra. O pai, Paulo Leminski, era filho de poloneses, e a mãe, Áurea Pereira Mendes Leminski, tinha ascendência portuguesa, negra e indígena. Teve também um irmão dois anos mais novo, Pedro Leminski, com quem compôs a música “Oração de um suicida”, que abre o primeiro álbum da banda curitibana Blindagem, de 1981.

Com Ivo Rodrigues, vocalista do Blindagem e também da precursora do rock curitibano A Chave, teve uma grande parceria musical. Além disso, suas composições foram gravadas por nomes como Caetano Veloso, que colocou "Verdura" no álbum "Outras Palavras", de 1981; pelos “novos baianos” Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira, que gravaram, entre outras, as músicas "Valeu", "Se houver céu" e "Lêda"; Arnaldo Antunes, com "UTI" e "Além alma", e por Zélia Duncan, que gravou "Dor Elegante", antes musicada por Itamar Assumpção, além de outras figuras importantes da cena musical brasileira.

“Nos anos 1980, o Leminski era muito presente no rádio e na TV. Muita gente o conheceu primeiro como letrista, pelas músicas que fez com Moraes Moreira, Caetano, A Cor do Som, Arnaldo Antunes, Itamar Assumpção, Blindagem. Se você fosse jovem naquela época, talvez fosse mais fácil conhecer ele pelo som do que pelos livros”, conta Estrela. “Eu cresci ouvindo as músicas dele, e sempre me espantava com a reação das pessoas por não saberem que eram de sua autoria. São canções que marcaram época, tocaram em novelas, foram cantadas por artistas como Ney Matogrosso e chegaram até ao universo infantil”.

Em 2009, Estrela começou a organizar o legado musical do pai e, em 2014, lançou o projeto Leminskanções, álbum duplo que reúne 25 faixas e é a compilação mais completa de sua obra musical. “Convidei artistas que se inspiraram na obra dele, parceiros e intérpretes, como Zélia Duncan, Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro. E tive a alegria de contar com Moraes Moreira, que é meu padrinho e um dos artistas que mais colaborou com ele. Moraes chegou a me dizer que sonhava em gravar um disco só com suas parcerias com o Leminski”, diz.

No ano seguinte, foi lançado o Songbook Paulo Leminski, que reúne um farto material de suas composições, retirado de cadernos, rascunhos, fitas K7 e até de guardanapos, e que conta com mais de 100 músicas, muitas inéditas. Não à toa, seu nome batiza o principal palco musical de Curitiba, a Pedreira Paulo Leminski, que no ano passado abrigou o festival que celebrou os 80 anos do autor e que deve ganhar uma segunda edição neste ano.

Agora, em 2025, o Leminskanções ganha novo fôlego enquanto show, com canções inéditas (algumas que não estão no Songbook) que a filha vem preparando, em parceria com o produtor Gustavo Ruiz. “Para mim é emocionante ver isso tudo florescer, porque meu pai sempre disse que precisou se transformar em compositor para que a poesia dele se manifestasse também na música. Hoje, o título de compositor não está mais em questão. Ele é reconhecido como poeta, sim, mas também como músico. E o Leminskanções é um jeito de manter esse legado vivo, pulsando, no corpo e na voz”, comenta.
com AEN parana.pr.gov.br/aen/Noticia/

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