
(*) Matheus Itiro de Castro Tao
(*) Matheus Itiro de Castro Tao
O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou as tarifas mínimas que o país passará a impor sobre produtos importados, afetando, desde países como Japão e Coréia do Sul, até o Brasil, logo o mais afetado pelas medidas.
A política tarifária de Trump constitui, em geral, a base de sua política industrial, que possui como foco a “reindustrialização” dos EUA, com a tentativa de retomada do emprego e do produto industrial. Neste sentido, convido o leitor à reflexão de dois elementos que considero centrais para o debate.
O primeiro diz respeito à natureza do processo de desindustrialização experienciado pelos EUA, enquanto o segundo concerne à eficácia da política tarifária como forma de incentivo à indústria em pleno século XXI.
A partir da década de 1990, o fenômeno da globalização da produção se intensificou profundamente, tendo as economias avançadas transferido boa parte de suas atividades produtivas de baixa e/ou média complexidade (low-tech e medium-tech) para as economias “emergentes. Se convencionou, na literatura, referir-se a tal fenômeno como “desindustrialização natural”, por se tratar de um processo que deveria ocorrer a partir do ponto em que as economias alcançam um alto nível de renda per capita, que lhes levariam a terceirizar atividades produtivas intensivas em trabalho para as economias de baixa renda per capita, nas quais o custo de produção é significativamente menor.
Agora, Trump busca trazer de volta as atividades produtivas que, outrora, foram terceirizadas pelo país, em um momento em que deveria, ao contrário, preocupar-se em concentrar os esforços de sua política industrial em subsídios e incentivos à pesquisa e desenvolvimento, com o fim de robustecer sua complexidade econômica através do crescimento dos setores “high-tech”.
Para exemplificar a tamanha absurdidade da política econômica norte-americana, válido citar as estimativas realizadas por analistas, que apontam que o preço do Iphone poderia triplicar, ou até mesmo quadruplicar caso passasse a ser fabricado nos EUA.
Em uma economia caracterizada por “cadeias globais de valor”, a imposição unilateral de tarifas, longe de constituir uma política “moderna” (o seria, se ainda estivéssemos no século XIX), eis que representa tão somente uma inconsciente tentativa de “suicídio” econômico, que findará por isolar os EUA em um contexto em que, até rivais históricos, como Japão, China e Coréia do Sul, celebram entre si acordos de livre comércio ante a irracionalidade econômica norte-americana.
(*) Matheus Itiro de Castro Tao, economista, mestre e doutorando em Desenvolvimento Econômico (UFPR). E-mail: matheusitirotao@gmail.com