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Com 9% da produção de energia elétrica consumida no Brasil, a hidrelétrica Itaipu Binacional aposta em outras formas de energia renovável e quer mais que duplicar a capacidade instalada da usina, atualmente de 14 mil megawatts (MW). A estrutura que opera comercialmente há 40 anos em Foz do Iguaçu, no Paraná, é fruto de um tratado entre Brasil e Paraguai.
A empresa pretende concluir ainda em 2025 a instalação de um projeto-piloto para gerar energia solar a partir de 1,5 mil placas fotovoltaicas no leito do reservatório do Rio Paraná, que abastece as turbinas da hidrelétrica.
A construção está 60% pronta e 85% dos equipamentos já foram comprados. De acordo com o diretor-geral brasileiro de Itaipu, Enio Verri, o projeto deve ser entregue em setembro.
As 1,5 mil placas solares ocuparão 1 hectare - área aproximada de um campo de futebol. Isso é menos de 1% dos 1.350 quilômetros quadrados (km²) do reservatório.
O investimento é de US$ 854,5 mil (cerca de R$ 4,7 milhões). As obras são realizadas pelo consórcio binacional formado pelas empresas Sunlution (brasileira) e Luxacril (paraguaia), vencedor de licitação.
Com as placas solares em funcionamento, Itaipu espera gerar 1 megawatt-pico (MWp), unidade de medida para a capacidade máxima de geração de energia. Essa energia é equivalente ao consumo de 650 casas e será utilizada para consumo próprio da usina.
O superintendente da Assessoria de Energias Renováveis da Itaipu, Rogério Meneghetti, estima que, se no futuro Itaipu conseguir cobrir 10% do reservatório com placas solares, será possível gerar 14 mil MW, o que significa dobrar a capacidade atual da empresa, que deixaria de ser apenas uma hidrelétrica.
“A ideia é que no futuro isso possa ser um novo negócio para a instituição”, diz. “A gente sabe que tem um potencial gigante no nosso reservatório. Mas não são todas as áreas que podem ser utilizadas”, explica, acrescentando que haverá estudos de impactos ambientais e na navegação.
“Onde é área de navegação, área de reprodução de peixes, tudo isso a gente está monitorando, avaliando, para pensar em futuras ampliações”, adianta.
Outras formas de geração de energias renováveis são pesquisadas, desenvolvidas e testadas no Itaipu Parquetec, um centro de inovações em soluções sustentáveis localizado no lado brasileiro de Itaipu. No Parquetec fica o Centro Avançado de Tecnologia de Hidrogênio, que desenvolve o hidrogênio verde.
Centro de Tecnologias de Hidrogênio, no laboratório de hidrogênio verde do Itaipu Parquetec - Tânia Rêgo/Agência Brasil
O hidrogênio é um gás que pode ser utilizado como combustível sem emitir gás carbônico (CO₂), causador do efeito estufa e, por consequência, o aquecimento global. No entanto, apesar de ser o elemento mais comum na natureza, dificilmente é encontrado isoladamente. Geralmente está associado a outros elementos, como no caso da água (H₂O) – suprimento abundante em Itaipu.
Um dos meios mais desenvolvidos para extração do hidrogênio é a eletrólise, quando se extrai a molécula presente na água. Para fazer a separação dos elementos químicos, é preciso usar energia. Quando essa energia é de origem limpa, como a hidrelétrica, é possível classificar o hidrogênio resultante como verde. De acordo com o pesquisador Dan Yushin Miyaji, a versatilidade do hidrogênio verde é o que pode fazer dele uma solução para a transição energética, uma vez que o elemento pode ser usado tanto como energia ou virar insumo para outros produtos, como metanol, combustíveis sintéticos e amônia, utilizada na produção de fertilizantes.
A Itaipu aposta também na geração de biogás a partir de resíduos. Ainda nas instalações da empresa ficam uma usina de biogás e biometano e uma unidade de produção de hidrocarbonetos renováveis. Essas plantas são operadas pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), uma empresa fundada por Itaipu voltada a soluções na área de combustível limpo.
Por um processo de biodigestão realizado em grandes tanques, alimentos impróprios e outros resíduos orgânicos são transformados em combustível limpo, capaz de abastecer carros que circulam dentro de Itaipu.
Como o biogás e o hidrogênio verde do Parquetec, a planta desenvolve bio-syncrude, um óleo sintético que pode ser usado na produção de SAF (Combustível Sustentável de Aviação, na sigla em inglês). Esse óleo sintético é outra inovação que será demonstrada na COP30.
As iniciativas de descarbonização produzem energia também a partir de resíduos da suinocultura. A cerca de 2h30 de carro ao nordeste de Itaipu fica a cidade de Toledo, grande produtora de suínos. Um projeto do CIBiogás recebeu R$ 19 milhões da empresa para desenvolver o processo de biodigestão de dejetos de porcos e carcaças dos animais.
Além de oferecer solução para produtores locais, a biousina produz energia para consumo próprio e geração distribuída de energia elétrica (quando um consumidor oferece energia própria e limpa para distribuidoras em troca de créditos).
Diariamente são recebidos e biodigeridos em enormes tanques dejetos de 40 mil suínos. A biousina tem capacidade para gerar energia equivalente para abastecer 1,5 mil casas.
Para o diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional, Enio Verri, os projetos de inovação fazem com que a empresa tenda a caminhar para ser uma grande produtora de energia, além da hidrelétrica.
“Olhando para o futuro, esperamos que tudo isso some-se à nossa produção e, na média, a gente consiga garantir a energia limpa que é fundamental dentro de uma transição [energética] e, ao mesmo tempo, mantenha o preço baixo”, disse a jornalistas que visitaram a hidrelétrica, que fica exatamente na fronteira entre Brasil e Paraguai.
Com reportagem da Agência Brasil a convite da Itaipu Binacional