por Sérgio Odilon Javorski Filho
Ninguém nasce pronto. A vida é o aprendizado de normas ensinadas de geração para geração. A lei não existe. É criada. Está ligada a interesses. A propósito, a moral, a ética e os bons costumes são padrões de comportamento impostos aos 99% dos habitantes do mundo, para que 1% viva livremente, sem regras ou freios.
Sacrifica-se a maioria para que a minoria privilegiada reine no mundo soberanamente, a ponto de a massa prejudicada defender, brigar e morrer para a manutenção do direito de os ricos permanecerem no topo, explorando o restante. O pobre é como a uva pisoteada para formar o bom vinho que servirá tão somente meia dúzia de taças de ouro.
A desigualdade sempre existiu e existirá. A ideia de superioridade envolve contextos diversificados, embaralhados, com a finalidade única de confundir e inserir na mente humana que o sucesso material pertence unicamente aos escolhidos. As missas já não falam de Deus. O clamor é por benefícios celestiais. É sobre o que pode ser recebido ou perdido, conforme a boa vontade em conceder mais riquezas ao Deus que devolverá em dobro.
Do Velho Testamento ao Novo. Do Novo Testamento ao Velho. Do Deus vingativo ao compreensivo. Do compreensivo ao vingativo. Eis a bipolaridade celestial. Dê-me, e eu te darei de volta! Não dê, e perca o pouco tem. As riquezas materiais podem garantir o lugar no céu, no purgatório ou no inferno. Deus já julgou, condenou, executou barbaramente sentenças, perdoou, amou, salvou. No final, voltou a punir, mais severamente ainda. Chega de dar. Deus quer receber. Deus é político, economista, ministro, empresário. É algo extraordinariamente maior, por oportuna convenção, por isto, não é o pedreiro, o caminhoneiro, o lixeiro. Deus tem seus preferidos, as profissões de seu gosto e é sedento por riquezas, principalmente, em tirar do mais precisado e entregar a quem já tem abundância. Cansou da pobreza, de perambular por Jerusalém com roupas humildes e chinelo de couro surrado. Deus quer guerra, bombardear escolas e hospitais, matar crianças e doentes.
Pela lógica, hão de existir impostos pós-morte. Não é possível que o ser humano possa existir em carne ou espírito sem pagar, ceder ou sofrer. A luta de classes é atemporal, trespassa o plano físico. Onde existir um rei, haverá escravos, servos e vassalos.
O Deus vingativo pós-contemporâneo mata com gosto. Alegra-se com o sangue vertendo, com sua obra enterrada viva sob escombros, amputadas, famintas, sedentas, doentes. Tem algo diferente entre este Deus e o do Velho Testamento: uma forte pitada de sadismo gratuito.
Neste contexto barulhento, a lei divaga, flutua como um balão sem rumo em meio à tempestade, e é arrastada para onde o vento sopra mais forte. Assim são criados os lideres, déspotas, tiranos. A caricatura muda, o coração perverso é sempre o mesmo.
Até aí, tudo bem ou tudo mal, dependendo da crença de cada qual. O problema será muito maior se Deus não existir ou, existindo, não interfira em decisões humanas, em respeito ao livre arbítrio. Todas as mortes, o sofrimento e tudo mais que torna a espécie humana a mais macabra dentre todas as demais será osso dos mesmos ossos, sangue do mesmo sangue, carne da mesma carne.