Divisão de Neuro-oncologia do hospital utiliza fluorescência por 5-ALA associada à terapia fotodinâmica intraoperatória na cirurgia de remoção do tumor, ajudando a evitar a progressão da doença
A bancária catarinense Sabrina Kuhnen, 32, deu entrada no Instituto de Neurologia de Curitiba (Hospital INC) para fazer uma cirurgia de emergência para retirada de um tumor no cérebro, no começo de 2023. Ela chegou já em coma, levada pela irmã e pelo marido. “Só lembro quando acordei e comecei a mexer meus braços, minhas mãos e pernas, e falei para as enfermeiras que aquilo era um milagre. Eu estava fazendo tudo que alguns médicos tinham dito que eu não voltaria a fazer. Tenho muito orgulho da minha história, que não foi e não está sendo fácil”, conta Sabrina que é mãe de um menino de 2 anos 8 meses. “Quando a gente descobre a doença é devastador, terrível mesmo. Tudo mudou na minha vida e da minha família. Quero voltar a trabalhar e ter a minha vida normal, viajar com o meu marido, criar meu filho e vê-lo crescer”. 

Em setembro de 2024, Sabrina teve a recidiva doença - reaparecimento do tumor - e fez uma nova cirurgia, quando foi tratada com terapia fotodinâmica intraoperatória (TFD) associada ao 5-ALA (corante farmacológico ácido 5-aminolevulínico). Esse procedimento consiste na colocação de um difusor a laser dentro da cavidade operatória, gerando uma reação fotoquímica com o corante 5-ALA, ingerido pelo paciente. Isso causa a morte de células cancerosas residuais. Sabrina também participou de um projeto-piloto no INC, inédito, que realizou o tratamento da terapia fotodinâmica com 5-ALA de forma não invasiva, utilizando um capacete. Durante cinco dias seguidos, ela tomou o 5-ALA e o usou o capacete com o difusor a laser.

Único hospital na América Latina que realiza a TFD com o 5-ALA na cirurgia de gliomas malignos, o Hospital INC segue aperfeiçoando suas linhas de pesquisa com novas possibilidades de tratamento. O neurocirurgião e pesquisador Erasmo Barros da Silva Jr., coordenador da Divisão de Neuro-oncologia do INC pontua que, mesmo com todo esse empenho, ainda são necessárias terapias adicionais como radiação e quimioterapia. “ Precisamos oferecer as melhores possibilidades de tratamento continuadamente, respeitando o método científico e a ética médica. O papel da TFD é favorecer os tratamentos que vierem depois, atrasando ao máximo a recidiva da doença.”

O INC usa o 5-ALA na cirurgia dos gliomas malignos há quase dez anos, aproximando-se de quase mil casos tratados. A TFD foi associada a partir de 2022. Todo esse pioneirismo vem rendendo publicações em revistas científicas internacionais nos últimos anos. “Poucos centros do mundo têm feito esse tipo de estudo. Temos um corpo clínico muito dedicado, que realiza pesquisas e continuamos na vanguarda, oferecendo o melhor tratamento possível para esses pacientes. A terapia fotodinâmica associada ao 5-ALA tem mostrado realmente uma sobrevida maior do que outros métodos convencionais de tratamento, dando uma nova esperança para muitos pacientes”, avalia o neurocirurgião Ricardo Ramina, chefe do Departamento de Neurocirurgia do INC. 

Um tipo de tumor primário do sistema nervoso central, o glioma maligno de alto grau tem uma incidência de aproximadamente 3 a cada 100 mil pessoas, de acordo com a Associação Americana de Neurocirurgiões. Atinge duas vezes mais os homens do que as mulheres, geralmente com mais de 40 anos. "Essa doença oferece um grande desafio para os médicos que atendem esses pacientes, necessitando de uma equipe multidisciplinar. Veja que, nos Estados Unidos, uma figura conhecida como o senador Ted Kennedy, irmão do presidente John F. Kennedy, apresentou esse tipo de tumor, falecendo cerca de oito meses após o diagnóstico. Ele não teve a oportunidade de receber o tratamento que o INC oferece para os seus pacientes", observa Dr. Ricardo Ramina.