Lições dos Mercados Financeiros Desde o "Dia da Libertação"
08/07/2025 às 09:31
Foto de Carl Tronders na Unsplash
por Priscila Caneparo

Desde o anúncio das tarifas comerciais pelo presidente Donald Trump em 2 de abril de 2025 - batizado de “Dia da Libertação” - os mercados financeiros têm oferecido lições importantes sobre a atual dinâmica econômica dos Estados Unidos e seu papel no cenário global. Embora ainda seja cedo para prever os impactos de longo prazo dessas políticas, as reações iniciais já sinalizam mudanças estruturais que vão além do comércio internacional.
 
Historicamente considerados ativos seguros, o dólar americano e os títulos do Tesouro dos EUA perderam valor nos dias seguintes ao anúncio. Entre os dias 2 e 8 de abril, o índice S&P 500 caiu mais de 11%, o rendimento dos títulos de dez anos subiu 12 pontos-base e o índice DXY do dólar recuou 1,3%. Essas reações se assemelham mais às vistas em economias emergentes instáveis do que em uma potência consolidada como os EUA.
 
O governo, ciente da volatilidade, anunciou uma pausa de 90 dias nas tarifas, o que ajudou a estabilizar os mercados de títulos e a recuperar parte das perdas no mercado acionário. No entanto, o dólar continuou em queda, refletindo uma reavaliação do risco político associado aos ativos norte-americanos por parte de investidores estrangeiros.
 
Dados do Tesouro indicam que, em abril, investidores estrangeiros venderam US$ 70 bilhões em ações e títulos do governo dos EUA, com um saldo líquido de saída de capital de US$ 51 bilhões. Embora modesta em comparação com os fluxos positivos anteriores, essa movimentação indica uma perda de confiança relativa que pode se intensificar, especialmente considerando que mais de 30% dos títulos do Tesouro detidos por estrangeiros vencem nos próximos dois anos.
 
Outra lição importante é que alternativas aos ativos dos EUA estão sendo consideradas com mais seriedade. O ouro, por exemplo, valorizou-se 28% em 2025, sendo 7,7% apenas após o Dia da Libertação. Na Europa, a flexibilização fiscal na Alemanha levou a uma valorização de 30,5% no mercado acionário local, superando amplamente o desempenho do S&P 500.
 
As repercussões globais também foram significativas. O franco suíço valorizou-se 8% frente ao dólar, o que prejudicou as exportações suíças e levou o banco central do país a reduzir sua taxa de juros a zero. Nos Estados Unidos, temores inflacionários decorrentes das tarifas influenciaram a decisão do Federal Reserve de manter as taxas de juros estáveis em junho.
 
Por fim, os eventos desde o Dia da Libertação mostram que decisões políticas americanas têm efeitos que extrapolam as fronteiras nacionais. A confiança nos ativos dos EUA, outrora inabalável, agora é ponderada com maior cautela por investidores globais. As escolhas da administração Trump continuarão a moldar os mercados financeiros mundiais — não apenas no curto prazo, mas de forma duradoura.
 
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