
Motorista de caminhão - Shutterstok
Com fraudes em alta, transportadoras apostam em análise de histórico e comportamento digital para prevenir roubos nas estradas
Uma carga desviada pode significar prejuízo milionário e abalar toda a cadeia logística de uma empresa. Por isso, todo cuidado é pouco. Antes mesmo da carga seguir para o destino, saber quem está ao volante é tão essencial quanto rastrear o caminhão em tempo real. A checagem de antecedentes criminais, histórico profissional e comportamento dos motoristas passou a ser uma etapa crítica e inegociável para empresas que transportam cargas pelas rodovias brasileiras.
Levantamento recente da Associação Brasileira de Transporte e Logística de Produtos Perigosos (ABTLP) revela um dado alarmante: em mais de 40% dos casos de roubo de cargas registrados em 2024 houve envolvimento direto ou indireto de funcionários das próprias empresas. Em especial, motoristas terceirizados e agregados.
No Brasil, estima-se que existam cerca de 2 milhões de caminhoneiros, entre autônomos e empregados, segundo entidades de classe. Desse total, aproximadamente 470 mil são caminhoneiros autônomos, conforme dados da Confederação Nacional do Transporte (CNT). “Esse alto volume de motoristas sem vínculo empregatício direto dificulta o controle e aumenta a exposição a riscos. Por isso, ferramentas inteligentes de validação se tornaram essenciais”, afirma Tatiane Bueno, diretora executiva da Tecnorisk, empresa referência em gerenciamento de risco no setor.
A companhia, que atende grandes transportadoras em todo o Brasil, desenvolveu protocolos de checagem que cruzam dados de diversas fontes. Registros públicos, bancos de ocorrências e listas de antecedentes criminais são checados minunciosamente. “Temos casos em que o motorista apresentava documentação impecável no papel, mas detectamos indícios de envolvimento em redes de roubo graças a alertas cruzados com dados comportamentais e localização de rotas incompatíveis com seus itinerários anteriores”, relata Tatiane.
Ela revela que, mesmo que os documentos estejam em conformidade, se o motorista tiver um mandado em aberto — como no caso de pensão alimentícia, por exemplo —, ele não poderá seguir viagem. “Nesse caso, o motorista pode ser detido, e a carga ficará exposta”, explica Tatiane, complementando: “Segurança não se faz só com escolta armada ou rastreador. Ela começa com a escolha certa de quem conduz a carga.”