
Foto de Gaston Roulstone na Unsplash
por Luiz Felipe Leprevost
Sentado aqui, olho meu retrato de infância e sou transportado para o tempo da inocência. Eu e eu assim me olhando e me olhando a olhar, coloco minha história na balança, pesando momentos bons e ruins, escolhas certas e erradas. Na ardente infância, escutava estrelas e árvores bem ao estilo do Meu Pé de Laranja Lima. Mais tarde, me assentaria nos descaminhos da noite e aprenderia a uivar para ser ouvido no escuro dos poemas. Era mesmo ouvido? Por bem poucos.
O homem maduro (que procura ao menos ser) olha para o garoto que foi e vê a insegurança, a dúvida, a identidade se desenvolvendo em meio a indiferença das madrugadas geadas na alma. O frio era mais frio? O quarto escuro mais escuro? A sensação de estar perdido, de não saber aonde ir, preponderava.
Tanta vez a solidão, companheira mais paralisadora do que questionadora. Por outro lado, as manhãs iluminadas, o presente do céu azul abrasador, a brisa quase poema a sussurrar felicidade. Nesses momentos, sei que avancei na direção certa, do sentido da minha existência no mundo.
Os sábios dizem que é preciso aprender com os erros, mudar conceitos e crenças limitantes. Gostei, por exemplo, de uma explicação do Rubem Alves a respeito de Deus. Com objetividade, ele colocou a indesviável questão: “aprendi que a gente morre. Por isso é preciso Deus, por causa da morte.”
A vida, afinal, é também composta por limitações, a finitude é a maior delas. Além do mais, são tantas as escolhas difíceis, os momentos em que nos vemos feridos, vulneráveis. Quem já não teve a faca da angústia no coração? Quem não sentiu a lancinante dor da perda? As constantes incertezas do futuro? É recomendável, justamente, que nesses momentos busquemos forças para seguir em frente. Não é algo simples, ainda assim o fazemos.
Até uns anos atrás, ao final do dia, eu pegava as perguntas todas e fazia um porre com elas. Hoje, ao final do dia, faço um café da tarde. Nem sei se me divirto. E, para ser sincero, não acho que preciso me divertir tanto assim. Tudo é alguma coisa que não sabemos exatamente o quê. Sei que estou vivo. Aliás, muito mais do que vivo, ou seja, vivo. E é isso que importa.