
Em março último, após vinte nos de análise o IPHAN reconheceu a arte Kene Kuĩ, constituída por padrões gráficos utilizados em tecelagem, pintura corporal e em cerâmica, como patrimônio cultural do Brasil. E Curitiba poderá conhecer essa manifestação vinda da floresta amazônica em exposição que a SOMA Galeria abre na noite desta terça 1 de julho, apresentando obras de Siã Kay, de 22 anos.

Ele expõe o lado de outros jovens artistas, com trajetórias distintas, o arquiteto David Tessler e o médico Gustavo Takizawa. Em comum, a potência e a delicadeza de quem se comove com a vida.
Siã Kaya é Huni Kuin, povo originário da região amazônica, apresenta pinturas descritas como extensões dos rezos Huni Meka e da medicina Nixi Pae (ayahuasca), transmitidos por gerações. Quatro telas de cores intensas narram visões espirituais de sua cultura, como a origem do cipó sagrado e os cantos de cura. A renda da venda das telas será destinada à construção da casa de sua mãe, no Acre. (A luta pela preservação do território é uma constante na vida dos Huni Kuin).
O artista Huni Kuin nasceu na aldeia Boa Vista, no Acre, e é neto de Ibã Sales, líder do coletivo Movimento dos Artistas Huni Kuin, que ganhou grande visibilidade através de suas participações no MASP e na Bienal de Veneza. Siã, tão jovem, é também rezador, músico e artesão, traduzindo os cantos sagrados do seu povo em pinturas figurativas como forma de preservar e difundir sua cultura ancestral.
A arte cura
O curitibano Gustavo Takizawa, de 28 anos, médico por formação, esculpe na madeira compensada a fauna e a anatomia humana. Na mostra, peças de três fases distintas: “Grandes Felinos”, “Galgos” e “Homo Mortuus”, que evidenciam sua passagem pela medicina e também um movimento de reconexão com a própria saúde mental, onde a arte surge como processo de cura e reinvenção.
Formado em medicina pela Universidade Positivo, migrou para a arte como forma de reencontro pessoal e superação. Suas esculturas em madeira compensada revelam padrões morfológicos, abordam a natureza e o corpo humano, mas, sobretudo, promovem um ponto de fuga – uma forma de se perder para experienciar um pouco de paz.
Design autoral
David Tessler expõe doze luminárias e objetos utilitários das coleções Faro e Ilha, feitas em madeira de demolição e aço inox, que ganharam destaque na MADE, uma das principais vitrines do design no Brasil. Com olhar técnico e acabamento manual refinado, ele valoriza a autenticidade dos materiais e sua origem: a imbuia, madeira nativa do Paraná e de Santa Catarina, provenientes de demolição
Arquiteto e urbanista pela Universidade Federal do Paraná e técnico em mecânica, David Tessler, 30 anos, conta que teve aulas com Morito Ebine, referência em marcenaria artesanal no Brasil. Com olhar preciso, acabamento manual e valorização da matéria prima, suas obras combinam rigor construtivo, técnicas artesanais e fluidez estética, resultando em peças elegantes e minimalistas.
Anote:
Exposição “Design, Pintura e Escultura”
Local: Soma People & Culture (Rua José Bernardino Bormann, 730, Batel, Curitiba-PR)
Período: de 1 a 26 de julho de 2025
Horário: das 14h às 19h, de terça a sexta-feira
Entrada gratuita
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