A escalada do conflito no Oriente Médio: o ataque dos EUA
24/06/2025 às 07:00
Foto de Who’s Denilo na Unsplash
por Priscila Caneparo
 
O recente ataque dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas, incluindo o subterrâneo complexo de Fordow, marca um momento crítico na escalada de tensões no Oriente Médio. A decisão do presidente Donald Trump de ordenar os bombardeios representa não apenas um novo capítulo na guerra já em curso entre Israel e Irã, mas também expõe os Estados Unidos ao risco de se envolver profundamente em um conflito de longo prazo, com consequências regionais e globais. Embora Trump tenha declarado que os alvos foram “obliterados”, ainda não há clareza sobre a real extensão dos danos. Mais evidente, porém, é a mudança de fase no conflito: os ataques americanos encerraram qualquer espaço para uma solução exclusivamente diplomática a curto prazo.
Diante da ofensiva, a resposta do Irã é uma incógnita. O histórico da liderança iraniana, especialmente após o assassinato de Qasem Soleimani em 2020, sugere que alguma forma de retaliação é quase certa. O cenário mais provável seria um ataque a bases americanas na região, como já ocorreu no passado. No entanto, o perigo maior reside na possibilidade de que esses ataques, mesmo que inicialmente limitados, saiam do controle e provoquem uma escalada indesejada. Existe ainda o risco de o Irã explorar outras formas de retaliação, como o bloqueio do Estreito de Ormuz – responsável por cerca de um terço do comércio mundial de petróleo. Tal medida, embora improvável no curto prazo por razões geopolíticas, teria impactos catastróficos sobre a economia global, incluindo uma crise energética de grandes proporções.
O envolvimento direto dos Estados Unidos é visto por Teerã como um reforço à campanha israelense contra o Irã. Israel, sem capacidade militar para atingir Fordow por conta própria, viu nos EUA o parceiro ideal para um ataque desse porte. Agora, o Irã enfrenta o dilema entre preservar suas recentes conquistas diplomáticas com a China e os países do Golfo, ou responder de maneira dura aos ataques recebidos, arriscando isolamento internacional. Além disso, a experiência do Irã com o comportamento volátil de Trump, como observado no episódio do Iêmen, pode levar Teerã a acreditar que a persistência na resistência pode forçar uma futura retirada americana.
As perspectivas a longo prazo são preocupantes. A ideia de que os ataques poderiam provocar a queda do regime iraniano é, segundo os analistas, improvável. O mais provável é que o governo iraniano, enfraquecido porém resiliente, adote uma postura ainda mais radicalizada, semelhante ao que ocorreu com o Iraque de Saddam Hussein após a Guerra do Golfo. Uma consequência direta desse cenário seria a renovação dos esforços iranianos para obter uma arma nuclear. Sem a vigilância da Agência Internacional de Energia Atômica e com um programa técnico já avançado, Teerã poderia, em poucos anos, alcançar esse objetivo, aumentando exponencialmente a ameaça à estabilidade regional.
Para os EUA, mesmo um Irã enfraquecido continuará representando um desafio constante. Os custos de manter uma presença militar elevada no Oriente Médio, além dos riscos de novos atentados e da instabilidade prolongada, podem se tornar um fardo político e econômico. Há também o risco de um novo desgaste nas relações com Israel. Se a guerra se prolongar e o envolvimento americano aumentar, a opinião pública dos EUA poderá responsabilizar Israel por arrastá-los para um conflito indesejado, um sentimento que já começa a ganhar força em alguns setores da sociedade americana. Em última análise, a decisão de bombardear o Irã representa um risco calculado com chances de insucesso consideráveis. O histórico das intervenções americanas no Oriente Médio mostra que, uma vez iniciado, um conflito é difícil de controlar e ainda mais difícil de encerrar. A opção mais segura – um acordo diplomático para limitar o programa nuclear iraniano – parece, ao menos por enquanto, uma oportunidade perdida.
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