
Cena de Cais
O longa Cais, de Safira Moreira, da Bahia, e Apenas Coisas Boas, de Goiás, do diretor Daniel Nolasco, são os grandes premiados no 14º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, encerrado nesta quarta 18 de junho. Entre curtas e longas, participaram 92 filmes, distribuidos em mostras especiais e competitivas.
Apenas Coisas Boas levou os prêmios de Melhor Roteiro, Melhor Som e Melhor Direção de Arte. Cais ganhou o prêmio Olhar de Melhor Filme, assim como os prêmios da crítica e do voto popular de Melhor Filme.
Em seu longa, Safira Moreira aborda o tema do luto e do tempo, numa viagem, dois meses após o falecimento de sua mãe Angélica, em busca de encontrá-la em outras paisagens, Percorrendo cidades banhadas pelo Rio Paraguaçu (Bahia) e pelo Rio Alegre (Maranhão), surgem novas perspectivas sobre memória, tempo, nascimento, vida e morte.
O segundo longa de ficção do diretor Daniel Nolasco, um dos principais nomes do cinema
queer brasileiro e internacional, é um romance rural LGBTQ+. O drama parte do encontro entre dois homens no interior goiano, em 1984, desenrolando uma narrativa marcada pela solidão e a tensão entre o desejo e a repressão.
Apenas Coisas Boas levou os troféus de Melhor Roteiro (Daniel Nolasco), Melhor Som (Guile Martins, Jesse Marmo, Naja Sodré e Daniel Nolasco), e Melhor Direção de Arte (Marcus Takatsuka).
No júri atuaram o historiador, gestor audiovisual, produtor e diretor Rodrigo Antonio; a premiada atriz em Sundance, Berlim, Mix Brasil e Festival do Rio, Bruna Linzmeyer, que se destaca pelo ativismo LGBTQIA+ e está desenvolvendo seu primeiro longa de ficção, Corupá; a gerente de departamento de programação e programadora na equipe de longas do Festival Sundance de Cinema e de Sun Valley, Ana Souza; a pesquisadora, programadora de festivais e também diretora do Berlinale Forum, Bárbara Wurm; e Pedro Freire, diretor de “Malu”, que fez sua estreia na direção no Festival de Sundance, em 2024, e levou quatro prêmios no Festival do Rio, incluindo o de Melhor Filme.
Explode São Paulo, Gil (SP) levou os prêmios de
Melhor Atuação (Gildeane Leonina) e de
Melhor Direção (Maria Clara Escobar Escobar). O enredo gira em torno de Gil, que sempre teve o sonho de ser cantora e que se mudou para São Paulo com sua esposa quando tinha 20 e pouco anos. Agora, com 50 anos, trabalha como faxineira. Do encontro de Gil com Maria Clara, surgiu a possibilidade para fazer o filme acontecer, para transformar a “sonhadora” em uma cantora, trazendo reflexões sobre sonhos, trabalho, envelhecimento e esquecimento.
Aurora (Rio de Janeiro), de João Vieira Torres, levou o prêmio de
Melhor Fotografia (Wilssa Esser e Camila Freitas). A produção leva o nome da avó do diretor, que foi parteira e curandeira por mais de 40 anos no sertão da Bahia. Entre os vivos e os mortos, o filme segue os rastros de Aurora, confrontando a violência estrutural de gênero e racial, presentes na formação história do Brasil.
A Voz de Deus (São Paulo), do diretor Miguel Antunes Ramos, ganhou o
Prêmio de Melhor Montagem (Yuri Amaral). O longa gira em torno de duas crianças pregadoras que buscam uma vida melhor através da fé.
Os curtas premiados são Fronteriza que levou o
Prêmio Olhar de Melhor Filme Curta-Metragem (Rosa Caldeira e Nay Mendl). A produção acompanha Lucca, uma jovem trans da periferia de São Paulo, que viaja até Foz do Iguaçu, no limite entre Brasil, Paraguai e Argentina, em busca do pai que nunca conheceu; e “Americana”, com o Prêmio Especial do Júri. Dirigido por Agarb Braga, o curta gira em torno de cinco amigas, que são detidas após uma briga em praça pública, motivada por uma traição. Na delegacia, durante os depoimentos, os segredos vêm à tona, com revelações inesperadas.
Na Mostra Competitiva Internacional de longas-metragens, “Ariel”, produção de Espanha/Portugal, levou o
Prêmio Especial do Júri. Com direção de Lois Patinõ, o longa é um filme de teatro dentro do teatro, focando em uma atriz argentina que desembarca em uma ilha estranha e encantadora, onde os habitantes transcenderam em personagens shakespearianos.
Já o
Prêmio Olhar de Melhor Filme ficou com “A Árvore da Autenticidade”, de Sammy Baloji. A produção da Bélgica/Congo se passa na floresta tropical do Congo, em que os restos de um centro de pesquisa dedicado à agricultura tropical revelam o peso do passado colonial e seus vínculos indissociáveis com as mudanças climáticas contemporâneas.
Entre os curtas-metragens internacionais, “Conseguimos Fazer Um Filme”, de Tota Alves, levou o
Prêmio Olhar de Melhor Filme. A produção de Portugal acompanha a jovem Maria Inês, que vive as primeiras brisas de amor nas férias de Verão. Acompanhada das amigas, ela passeia pelo bairro onde vive passando o tempo entre missangas e a rodagem de um filme. “O Reinado de Antoine”, de José Luis Jiménez Gómez, ganhou uma
Menção Honrosa da Mostra Competitiva Internacional. A produção cubana traz um jovem obcecado por fantasias históricas, que se refugia nelas para explorar a complexidade de seus laços familiares e seu ambiente social. Responsável pelo cuidado exclusivo de seu pai deficiente, ele se empenha em dar vida à sua narrativa épica ‘O Reinado de Antoine’, enfrentando adversidades diárias e buscando uma fuga em um mundo em ruínas;
Na Mostra Novos o filme ganhou prêmio “Voz Zov Vzo” (Rio de Janeiro), do diretor Yhuri Cruz, seu primeiro longa-metragem que oferece uma perspectiva racializada para as memórias da ditadura militar no Brasil.
Neste ano, as profissionais que fazem parte do júri da Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema, são a jornalista e crítica de cinema Cecília Barroso, integrante da Critics Choice Association e votante internacional do Globo de Ouro; a crítica de cinema, curadora, repórter e roteirista Nayara Reynaud; e a jornalista cultural convidada especial Luciana Melo, repórter de cultura no jornal Plural. As juradas escolheram quais foram considerados no olhar da crítica, os filmes de melhor longa e curta-metragem da Mostra Competitiva Brasileira.
O longa-metragem “Cais”, de Safira Moreira, levou o Prêmio da Crítica - Abraccine. Já o curta contemplado foi “Ontem Lembrei de Minha Mãe” (Foz do Iguaçu), de Leandro Alonso, em que um episódio da infância retorna à memória de um homem sem terra.
O longa-metragem escolhido pelo público foi “Cais” (Bahia), de Safira Moreira; e os curtas foram “Girassóis” (Rio de Janeiro), de Jessica Linhares e Miguel Chaves, que aborda um casal da terceira idade do subúrbio carioca e que, mesmo após os 60 anos, precisam continuar trabalhando para garantir a sobrevivência.
O Prêmio AVEC - Associação de Cinema e Vídeo do Paraná, que homenageia o cineasta Cyro Matoso, vai para o curta-metragem “Interior, Dia”, da cidade de Sapopema, dirigido por Luciano Carneiro e Paulo Abrão. E concede Menção Honrosa a “Entre Sinais e Marés”, curta de Maringá, dirigido por João Gabriel Ferreira e João Gabriel Kowalski.
Os jurados deste ano são a roteirista, diretora e artista audiovisual Bea Gerolin; a pesquisadora, produtora cultural e educadora, Cristiane Senn; e a programadora, diretora artística e curadora, Waleska Antunes.
Prêmio Canal Brasil de Curtas é do curta carioca “Girassóis”, de Jessica Linhares e Miguel Chaves.
O Prêmio Canal Like, que contempla o produtor responsável pelo longa-metragem vencedor da Mostra Competitiva Brasileira, é do longa “Cais”, de Sofia Moreira.
O primeiro lugar do Prêmio Cardume de Curtas foi para “Seco” (Rio de Janeiro), do diretor Stefano Volp. O curta traz um ex-militar viúvo que, após terminar seu testamento horas antes de morrer, percebe que não se recorda da última vez que havia chorado. Para encontrar suas lágrimas, ele provocará suas emoções correndo atrás de gestos e sentimentos soterrados.
O segundo lugar foi para “Americana” (Pará), de Agard Braga. E o terceiro lugar foi para “Maira Porongyta - O Aviso do Céu” (Mato Grosso), uma ficção baseada em fatos e traz Itaarió, criador do mundo, é o mais poderoso entre os Mait, os deuses do povo Kaiabi.