Segurança nas garantias locatícias não pode ser coadjuvante
12/06/2025 às 17:54
Recentes turbulências no setor acendem alerta sobre a necessidade de modelos robustos e transparentes para proteger locadores, inquilinos e o mercado como um todo
* por Mario Cesar Soares, diretor de Aluguéis da Auxiliadora Predial
 
O mercado de locação de imóveis vive um momento de intensa transformação. Novos modelos de garantia, impulsionados especialmente por fintechs e proptechs, vêm sendo apresentados como soluções mais rápidas e acessíveis para proprietários e inquilinos. No entanto, a recente descontinuação abrupta de uma dessas operações — que deixou locadores e imobiliárias à mercê de riscos que imaginavam cobertos — acendeu um alerta necessário: a segurança não pode ser negociada em nome da conveniência.
Se por um lado a inovação pode trazer agilidade, por outro, ela introduz um nível de incerteza que não podemos ignorar. Observamos uma certa volatilidade em modelos que, por vezes, parecem priorizar a rápida expansão de mercado em detrimento da sustentabilidade financeira e da robustez operacional a longo prazo. O locador precisa da garantia de que será ressarcido em caso de inadimplência. O inquilino precisa de previsibilidade e respaldo legal. E a imobiliária, que muitas vezes atua como intermediária e fiadora moral do negócio, não pode ficar vulnerável a promessas que se desfazem diante de um estresse econômico.
É fundamental que esse debate venha à tona agora. Estamos diante de um mercado em ajuste, em que muitos modelos estão sendo testados. Alguns prosperam com responsabilidade. Outros, não. O episódio recente nos mostra que é preciso olhar além do discurso de modernidade e avaliar com lupa o que sustenta, de fato, cada proposta de garantia, que é um pilar da relação contratual. Sua falha gera não apenas prejuízos financeiros diretos, mas também um enorme desgaste e quebra de confiança. Em um cenário de incertezas econômicas e de modelos de negócio em validação, reafirmar a importância da segurança é confirmar o compromisso com a estabilidade e a proteção do patrimônio e da tranquilidade dos clientes
A ausência de uma estrutura sólida por trás da garantia pode acarretar uma série de problemas graves. O risco mais imediato é a inadimplência não coberta, em que a garantidora pode não ter a capacidade financeira para honrar os compromissos em caso de calote do inquilino. Sem lastro financeiro, a empresa falha em ressarcir o proprietário, que ainda pode arcar com custos adicionais de despejo, reparos e honorários advocatícios. Em alguns casos, há demora no pagamento, insegurança jurídica e até disputas judiciais. O impacto se estende à reputação de todo o setor, minando a confiança no mercado como um todo.
Mas o que define uma garantia verdadeiramente sólida? O caminho mais seguro continua sendo a combinação de boas práticas, análise de crédito criteriosa e parcerias com instituições sólidas – sejam seguradoras tradicionais ou empresas com histórico robusto. Uma avaliação de risco responsável vai além do score: leva em conta a renda, o histórico financeiro, a consistência das informações e o perfil global do inquilino. Oferecer um leque diversificado de modalidades testadas e confiáveis, como o fiador tradicional, o seguro-fiança, a caução, o título de capitalização ou mesmo soluções próprias com garantia estendida e análise de risco robusta, permite adequação ao perfil de cada contrato, sempre com processos bem definidos e suporte jurídico e administrativo especializado. Não se pode esquecer, ainda, da importância de um laudo de vistoria detalhado, ferramenta essencial para prevenir disputas.
O ponto fundamental não é apenas a modalidade em si, mas a qualidade da análise de risco que a precede e a solidez da instituição que a garante. A eficácia reside na combinação de uma escolha adequada ao perfil do contrato e uma execução impecável, com processos bem definidos e parceiros de confiança.
A inovação é bem-vinda quando serve para aprimorar a eficiência e a experiência do cliente, mas nunca em detrimento da segurança e da responsabilidade perante locadores e locatários. Utilizamos a tecnologia para otimizar os processos internos. No entanto, quando se trata de novas soluções de garantia que surgem no mercado, nossa abordagem deve ser de cautela e avaliação rigorosa.
Não podemos nos deixar levar por modismos ou promessas de agilidade que possam esconder fragilidades. A responsabilidade com o patrimônio e a tranquilidade dos clientes vem sempre em primeiro lugar. Inovamos onde é possível agregar valor sem comprometer a segurança; onde há risco, prevalece a prudência e a experiência. O mercado pode — e deve — evoluir. Mas sem abrir mão da segurança como princípio inegociável.
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