"Adolescência", da Netflix: o que toda família precisa saber?
31/05/2025 às 12:31
Crédito: Divulgação Netflix
Haroldo Andriguetto Junior*

Como pai, tudo que eu mais gostaria era poder dizer que a série “Adolescência”, da Netflix, é boa parte ficção. Mas, como educador, não posso ser mediano. A série é real. Dói. E merece a atenção imediata de todas as famílias com filhos na adolescência ou pré-adolescência.
Criada por Jack Thorne em parceria com o ator Stephen Graham, a trama acompanha Jamie, um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. Por trás do crime, revela-se algo ainda mais assustador: um adolescente invisível para a própria família, abandonado por um sistema educacional frágil e completamente imerso em um universo digital tóxico. Essa é a equação de uma tragédia – e, infelizmente, mais comum do que se imagina.
A escola é palco central da narrativa, onde o bullying e o sexting ocorrem à vista de todos, mas sob o olhar míope de professores e diretores que, ao invés de intervirem, passam despercebidos em alguns sinais de alerta. Há um silêncio gritante diante do sofrimento dos alunos, como se não houvesse preparo, empatia ou autoridade suficiente para lidar com o que realmente importa: as emoções e os vínculos.
A série escancara ainda o abismo entre gerações. Em determinado momento, o filho do policial responsável pela investigação abre os olhos do pai para uma realidade paralela: um mundo de linguagens secretas, códigos simbólicos e julgamentos velozes que se desenrolam longe dos olhos de pais e educadores. É ali, nesse submundo digital, que tudo acontece — sem mediação, sem proteção, sem limites, sem humanidade. A famosa “terra de ninguém” é acessada dos quartos de casa, onde muitos filhos passam por horas conectados. Sim, estar em casa, no quarto, não necessariamente pode significar estar seguro.
Portanto famílias, esse alerta é para vocês. A única forma de prevenir, enfrentar e transformar essa realidade é por meio da presença ativa e uma aliança com a Escola. Educar não é apenas prover conforto material, é conviver de verdade: ouvir com atenção, partilhar histórias, acompanhar amizades, entender emoções, vigiar os excessos. É perceber o não dito. É viver junto.
Tentar dividir papéis entre Escola e Família, sobre quem educa e quem ensina, quem cobra e quem flexibiliza, só vai trazer neblina e mais retórica para um contexto que precisa de ação, clareza, orientação constante, firmeza e bons exemplos. Quartos decorados, grandes celebrações e festas, videogames, celulares de última geração — nada disso substitui o que um filho mais precisa: sentir-se visto, amado, respeitado. O que constrói um adolescente emocionalmente saudável não é o que ele tem, mas com quem ele pode contar.
Cabe à escola e à família se unirem em aliança, com princípio de confiança mútua, “arregaçando as mangas”, agindo com inteligência, cooperação e presença. Só assim será possível acessar esse mundo paralelo e reverter a lógica perversa da desconexão humana, causada pelo convívio frio e falso das redes sociais. Como nos mostra a série, não basta saber usar a tecnologia: é preciso resgatar, com urgência, o vínculo humano, o olho no olho, a escuta presente. Precisamos reacender o óbvio, sob pena de fracassarmos com os jovens e como geração.
A série é um espelho desconfortável, mas necessário. E o maior risco que corremos é assistir a tudo isso e seguir como se fosse apenas entretenimento. Não é.
*Haroldo Andriguetto Junior é Doutor em Educação, Pai de dois pré-adolescentes, Diretor da Escola O Pequeno Polegar e Presidente do SINEPE/PR.
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