
* Por Daniel da Rosa
Há décadas, a Alemanha é o laboratório mundial de inovação em energia limpa. O país europeu é referência global em políticas de transição energética, graças ao plano governamental chamado “Energiewende”. Trata-se das diretrizes de transição energética em curso que têm como foco a economia de baixo carbono e livre de energia nuclear. Ao apostar em energia solar, eólica, eficiência energética e políticas públicas alinhadas ao meio ambiente, o país não apenas reduz drasticamente suas emissões de CO₂, mas também transforma a sustentabilidade em vetor de competitividade.
Se observarmos as iniciativas alemãs, vemos que as companhias brasileiras têm plena capacidade para adotar certas medidas. Isso se considerarem um planejamento estratégico com metas sustentáveis de médio e longo prazo. O plano alemão foi fruto do consenso político e social em torno da descarbonização e está baseado na independência energética em conjunto com a economia circular. A Alemanha aposta na fusão de painéis solares e baterias recicladas de veículos elétricos, uma solução que satisfaz tanto a necessidade de energia limpa quanto o desafio ambiental do descarte de baterias de lítio.
Nos projetos experimentais desenvolvidos pelos alemães, baterias usadas são reutilizadas em sistemas de armazenamento de energia solar estacionário. As peças que ainda possuem 80% de sua capacidade útil após o ciclo do veículo são usadas para armazenar a energia solar produzida durante o dia e distribuí-la à noite, para assim, diminuir a necessidade de energia elétrica.
Outro exemplo ocorre no campo da arquitetura, que aproveita as sacadas dos edifícios para instalar placas fotovoltaicas de baixo custo, proporcionando autonomia energética ao apartamento e reduzindo o gasto com energia elétrica dos residentes.
Pense nisso sendo posto em prática num país com grande incidência solar, como o Brasil. Trata-se de uma chance significativa para diminuir os gastos com energia, além de dar uma nova destinação aos resíduos produzidos pela eletrificação de veículos.
Essas iniciativas são claramente resultados do aporte em pesquisa, desenvolvimento e alianças estratégicas feitos pelo país europeu. O ambiente de inovação da Alemanha se fundamenta fortemente na cooperação entre universidades, startups e grandes corporações. Adotar essa estratégia é crucial para que o mercado brasileiro aumente sua competitividade global.
Um exemplo prático dessa capacidade inovadora está no setor de energia renovável. Hoje, na Alemanha, a capacidade instalada de energia solar fotovoltaica equivale a sete vezes a de Itaipu. E a ambição do país é ainda maior, com o planejamento de dobrar esse valor até 2030, o que corresponderá a 14 usinas do porte de Itaipu. É importante mencionar que a energia solar fotovoltaica é, na maioria das vezes, gerada próxima ao local de consumo, evitando altos investimentos em linhas de transmissão.
Se o modelo alemão servir de inspiração para as empresas brasileiras, será possível não só reduzir custos operacionais, mas também se alinhar às crescentes exigências globais de ESG (Environmental, Social and Governance). Afinal, a pressão para atender às regulamentações sustentáveis cresce continuamente, e a exigência de comprovação dos fornecedores em grandes cadeias de fornecimento internacionais leva o setor empresarial a adotar diretrizes ambientais de longo prazo, uma prática cada vez mais valorizada por investidores e consumidores.
A vivência alemã evidencia que a mudança energética não é apenas possível, mas também estratégica. A sua adoção pelas corporações brasileiras significa não apenas colaborar para um futuro mais ecológico, mas também tornar os negócios mais robustos e competitivos.
* Daniel da Rosa é conselheiro da AHK Paraná.*
Sobre a AHK Paraná - Estimular a economia de mercado por meio da promoção do intercâmbio de investimentos, comércio e serviços entre a Alemanha e o Brasil, além de promover a cooperação regional e global entre os blocos econômicos. Essa é a missão da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), entidade atualmente dirigida por Lourdes Manzanares, a primeira diretora mulher da AHK Paraná.