
Na foto, consultor de carreira da ESIC Internacional, Alexandre Weiler. Crédito da foto: Gustavo Basso
Pesquisas mostram que 36% de jovens trabalhadores assumem não querer cargos de gestão, e prezam mais pelo equilíbrio entre vida pessoal e trabalho
Durante décadas, subir na hierarquia corporativa e alcançar cargos de liderança foi o objetivo clássico de sucesso profissional. Mais responsabilidades, melhores salários e poder de decisão sempre seduziram gerações passadas, mas as novas gerações, especialmente a Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), estão mudando esse paradigma. Segundo pesquisa recente da CoderPad, 36% dos trabalhadores de tecnologia afirmam não querer assumir cargos de gestão. O motivo? O alto custo emocional e pessoal não compensa, já que para a Geração Z o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é uma prioridade muito maior do que títulos e aumentos de salário.
De acordo com o relatório da consultoria McKinsey, a Geração Z representará 25% da força de trabalho global até o final de 2025, e estes jovens, altamente conectados, flexíveis e preocupados com causas sociais e ambientais, trazem novos valores ao mercado, já que o trabalho, para eles, não é apenas uma questão de renda, e sim uma extensão de sua identidade e propósito. "O jovem talento de hoje busca mais autonomia, propósito e qualidade de vida. Não se trata de falta de ambição, mas de uma ambição diferente. Eles querem crescer, sim, mas dentro de um modelo que respeite sua saúde mental, sua liberdade e seus valores", explica o consultor de carreira e negócios da ESIC Internacional, Alexandre Weiler.
Dados do Future Forum revelam que 45% dos gerentes intermediários se sentem exaustos, mais do que em qualquer outro nível hierárquico, e esse esgotamento ficou ainda mais claro durante a pandemia, onde as dificuldades da função de gestor ficaram ainda mais evidentes. “Além das pressões habituais, durante a pandemia, gerentes foram encarregados de implementar trabalho remoto, coordenar equipes híbridas e enfrentar sucessivas ondas de demissões. O resultado? Um nível inédito de estresse e esgotamento. Sendo assim, a figura do gerente ficou marcada como alguém sobrecarregado, cobrado de cima e criticado de baixo. Muitos jovens observam isso e, naturalmente, questionam se vale a pena seguir esse caminho", comenta Weiler.
Mais propósito, menos cargos
Ao assumirem cargos de gestão, muitos profissionais acabam se afastando daquilo que realmente gostam de fazer. “O programador brilhante vira administrador de equipe. O designer talentoso se vê preso em reuniões intermináveis. Essa perda de identidade profissional é um fator decisivo para a rejeição aos cargos de liderança. Antigamente, abrir mão do que se gosta em nome da ascensão era esperado, hoje, não mais. O jovem quer liderar pelo exemplo, impactar positivamente, mas sem sacrificar sua essência", afirma o consultor.
A saúde mental também pesa na balança, já que, de acordo com a McKinsey, 27% dos jovens da Geração Z afirmam que um ambiente de trabalho hostil impacta diretamente seu desempenho, contra apenas 16% nas gerações anteriores. “Há uma transformação profunda na relação dos jovens com o trabalho, já que para a Geração Z, o ambiente organizacional deixou de ser apenas um detalhe e passou a ser um fator central para a produtividade e o bem-estar. Enquanto gerações anteriores tendiam a "aguentar" ambientes tóxicos em troca de estabilidade ou crescimento, os jovens de hoje não aceitam mais essa troca. Eles enxergam a saúde mental como um ativo tão importante quanto a remuneração ou os benefícios tradicionais. Essa mudança coloca uma pressão inédita sobre as empresas, que precisam criar culturas mais acolhedoras, inclusivas e respeitosas se quiserem atrair e reter os novos talentos”, reforça Weiler.
Há também uma forte consciência de impacto social, sendo que, no Brasil, por exemplo, segundo dados da Deloitte, 69% dos jovens acreditam que podem promover mudanças sociais e ambientais por meio de suas empresas, um índice superior à média global (58%). “As novas gerações de profissionais brasileiros enxergam o trabalho de maneira ampliada. Eles não querem apenas construir uma carreira individual, mas usar o espaço corporativo como plataforma de transformação social e ambiental. Para os jovens, as empresas são agentes de mudança, e eles querem fazer parte ativa desse movimento. Essa visão reforça a necessidade de as organizações incorporarem responsabilidade social, sustentabilidade e propósito em suas estratégias, não apenas como discurso, mas como prática concreta. Afinal, para essa geração, impacto positivo é tão relevante quanto lucro”, explica o consultor.
Novos caminhos para a liderança
Weiler conta que isso não significa que a liderança esteja desaparecendo, mas que ela está se transformando. Nesse contexto, empresas que desejam atrair e reter jovens talentos precisarão repensar seus modelos de gestão. “Essa nova configuração exige que líderes sejam menos chefes e mais facilitadores, capazes de inspirar, ouvir e construir junto com suas equipes. A autoridade, antes baseada no cargo e na hierarquia, agora se conquista pela capacidade de gerar confiança, promover inovação e respeitar a individualidade de cada colaborador”, comenta.
Para a Geração Z, o líder ideal é aquele que orienta sem controlar, que reconhece as contribuições de todos e que atua como um agente de transformação tanto dentro quanto fora da empresa. “Estruturas mais horizontais, lideranças mais humanizadas e foco em desenvolvimento pessoal serão essenciais. O futuro da liderança é menos sobre cargos e mais sobre influência, colaboração e propósito. Quem entender isso, estará um passo à frente na construção das empresas do futuro", conclui Weiler.