
A moda-arte do pernambucano Melk Z-Da é uma invejável artesania de texturas, estruturas, tramas e formas. De passagem também nas artes plásticas, ele faz de sua nova coleção, “A Praia”, uma escultura tão bela quanto instigante. Para o DFB Festival 2025, em Fortaleza, onde é um dos pioneiros, ele desfilou vinte looks que navegaram das espumas às fendas dos mares calmos e bravios.
A inspiração é a transformação do ecossistema de Boa Viagem, a mais famosa praia de Recife, em que tubarões deram de assustar turistas. Ousado, para o estilista, a moda tem alma dramática e, por meio dela, deseja “emocionar e provocar reflexões”.
E conseguiu. Sua coleção navegou pela passarela do Centro de Eventos do Ceará sem qualquer risco de naufrágio. As organza e musseline de seda conferem delicadeza ao visual, onde proliferan peixes, cavalo-marinho, algas, conchas e até gaivotas. (Se deixar a imaginação mergulhar com o estilsita, é capaz de se avistar até seres abissais).

O desfile, contudo, abre com a exibição de um short, que poderia ser prosaico, mas aqui é desconstruído, traz corte assimétrico. Sim, o artista de visual poético também se revela na alfaiataria e na moda esportiva. Parceiro da Track&Field, ele ousa em outro interesse - “a praticidade do look fitness com a sofisticação da alfaiataria experimental”.
Outro aspecto da coleção é o reaproveitamento de materiais, como garrafas e sacos plásticos. Mas que, misturados a pérolas e cristais, ficam um luxo só. Ainda mais valioso porque não é produto de inteligência artificial, é inteligência artesanal.