Los Angeles 2028: progresso ou ilusão?
16/05/2025 às 07:53
*Paloma Herginzer

Os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 foram anunciados com entusiasmo pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) por conta da modernização, da diversidade e da igualdade de gênero. No entanto, por trás da fachada de progresso, surgem questionamentos importantes sobre o real impacto dessas mudanças e sobre os desafios ocultos que a expansão desenfreada dos Jogos traz consigo.

Em termos quantitativos, os números impressionam: 35 esportes, novas modalidades como flag football e squash, e uma promessa de paridade total entre atletas homens e mulheres. Segundo o COI, cerca de 10.500 atletas participarão da edição, com a expectativa de que as mulheres representem pela primeira vez 50% dos competidores. Um marco histórico se compararmos com a realidade de 1984, também em Los Angeles, quando apenas 23% dos participantes eram mulheres.

No entanto, é preciso cautela. A igualdade numérica não resolve, por si só, as disparidades de tratamento, visibilidade e financiamento que ainda marcam o esporte feminino. Muitos dos novos eventos que impulsionarão a presença feminina são em modalidades secundárias, com pouca audiência e limitada repercussão midiática. Assim, embora o COI proclame uma revolução, o espaço ocupado pelas mulheres ainda carece de reconhecimento proporcional dentro das principais arenas esportivas e nas transmissões globais.

Além disso, a inclusão acelerada de novos esportes, muitos deles com forte apelo regional, como o flag football nos Estados Unidos, expõe outra contradição: a tentativa de globalização dos Jogos, na prática, pode refletir interesses locais ou comerciais em detrimento da diversidade esportiva real. Há uma tênue linha entre a modernização necessária e a descaracterização dos valores olímpicos tradicionais.

A expansão dos eventos também traz preocupações logísticas e financeiras. Embora o COI tenha prometido respeito a limites de custos e uso de infraestrutura já existente em Los Angeles, a realidade é que mais modalidades significam mais gastos e maior pressão sobre a cidade-sede. A história recente mostra que muitas cidades enfrentam sérias dificuldades para justificar os investimentos olímpicos a longo prazo, e Los Angeles pode não ser exceção.

É necessário reconhecer o esforço do COI em ajustar os Jogos às demandas do século XXI. Contudo, um olhar mais crítico revela que avanços estruturais ainda são tímidos diante da grandiosidade das promessas feitas. Igualdade de gênero não se limita à presença no quadro de atletas, mas envolve também liderança administrativa, premiações financeiras iguais e real valorização midiática.

Los Angeles 2028 poderá ser um divisor de águas apenas se as mudanças forem além do marketing institucional e se refletirem, de fato, em um ambiente mais justo, sustentável e inclusivo para todos os envolvidos. Caso contrário, as mudanças anunciadas e celebradas correrão o risco de serem vistas como estratégias cosméticas em um cenário esportivo que ainda resiste às transformações profundas que a sociedade exige.

*Paloma Herginzer é formada em em Educação Física, especialista em Educação Especial e Inclusiva e Formação Docente EAD, e professora tutora dos cursos da área da Educação e Desportiva de Pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter.
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