
por Sérgio Odilon Javorski Filho
A fraude bilionária contra o INSS vai muito além dos crimes gravíssimos praticados contra a sociedade e o país. Evidencia a baixeza da atual moral e ética do brasileiro. Se, em outros tempos, acreditava-se que a maioria seria composta de pessoas honestas, com a facilitação da comunicação por meio da internet, não há maior incerteza que esta.
Há 50 anos, o destino de um devedor com nome “sujo” na praça seria inevitavelmente o ostracismo social. O mau caráter não encontrava espaço para viver dentre aqueles que respeitavam as leis e agiam, antes de tudo, a partir da singela reflexão: Não faça ao outro o que não gostaria que fizessem a você.
Recentemente, descobriu-se um antigo esquema de desvio de dinheiro dentro do INSS. Até o momento, estima-se um rombo de 6,3 bilhões de reais, e há muita gente envolvida.
A mente das pessoas está contaminada com a desvirtuação do conceito sobre ter sucesso na vida. Os valores de compartilhar, a bondade com o mais humilde, a entrega sem nada receber em troca, o simples ato de divertir-se, tornaram-se meios cuja única motivação é faturar. Não mais importa a amizade que a confraternização oportuniza, o Natal, o Réveillon, os aniversários nada mais são do que oportunidades para vender um produto escasso: felicidade a qualquer custo, nem que seja com o dinheiro dos aposentados.
Ninguém mais admira o pai ou a mãe que volta do serviço com o pão, a margarina e o leite para o café em família. Enquanto comem, sem olhar para a dignidade servida à mesa, crianças sem futuro assistem ao show do estelionatário da internet sobre como podem aproveitar o recreio da 4ª série do fundamental para fazer contatos e ter promissores relacionamentos.
Deixou de importar como determinada pessoa adquiriu o carro de 2 milhões, a casa na praia ou a empresa que teve sucesso repentino do dia para a noite. Se houve resultado positivo, está tudo certo. Mostrou a chave, os princípios caem por terra. Se ganhou o que tem enganando trouxas, é esperto, culpa de quem acreditou. Os fortes não vislumbram mais brilho em defender o mais fraco.
O povo trocou tudo pelo vil metal. Todos estão doentes, não mantêm um só relacionamento saudável em qualquer setor da vida, vivem em suas mansões afundados em remédios controlados para suportarem a si mesmos. Os filhos são ensinados desde muito pequenos a ganhar, lucrar e multiplicar. O resto, o dinheiro pode comprar.
O assalto ao INSS é de autoria coletiva. Cada um tem a sua participação, de maior ou menor importância. É também daquele que elogia o empresário que ficou rico porque corrompeu, subornou e cometeu crime fiscal. De quem elege político por relação de amizade ou bloco partidário, sem analisar suas propostas e cobrá-las, criando-se as oligarquias do legislativo. Do que exige o cumprimento da lei pelo vizinho, mas burla para o próprio filho.
Em tempos em que até a reza é remunerada, o pastor tem 14 anos e fala em linguagem ainda não identificada do além e o culto tem seguranças para evitar que alguém saia sem pagar, ainda mais com as fronteiras dos EUA fechadas para imigrantes ilegais, quem sair do tiroteio sem o isqueiro do vizinho no bolso já é vencedor.