
Helenir de Lima e a filha Letícia. Silmara Fancher e a tia Clarimon. Foto: Divulgação Semipi
Iniciativas coordenadas pela Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa buscam dar mais dignidade à população com mais de 60 anos e suporte aos seus familiares e cuidadores, em sua maioria mulheres, muitas vezes invisibilizados
O Brasil está envelhecendo e isso já não é mais assunto para o futuro. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2030 o número de pessoas com mais de 60 anos no país vai ultrapassar o de crianças e adolescentes menores de 14 anos. Em meio a essa mudança demográfica, surge uma pergunta frequente, principalmente por mulheres: quem vai cuidar de mim? Coordenado pela Secretaria da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), o Paraná criou programas que tratam o cuidado como um direito — tanto de quem precisa, quanto de quem cuida.
Enquanto o Brasil ainda estrutura as bases dessa política – como a Política Nacional de Cuidados, sancionada em 2024 -, o Paraná segue à frente nessa iniciativa de forma pioneira. O Estado foi o primeiro do país a integrar a Aliança Global para os Cuidados e vem transformando ideias em ações concretas.
Iniciativas da Semipi, como o Pacto pelo Cuidado, promovem articulação entre diferentes áreas e buscam garantir dignidade, autonomia e qualidade de vida para as pessoas idosas. O Paraná entende que envelhecer com respeito e dignidade é um compromisso de toda a sociedade, segundo a secretária de Estado Leandre Dal Ponte
“Temos mais de 1,8 milhão de pessoas com 60 anos ou mais vivendo hoje no Paraná, o que representa quase 16% da população. Muitas delas precisam de apoio diário, por questões de saúde, mobilidade ou simplesmente companhia. Na maioria das vezes, esse cuidado vem de familiares, principalmente mulheres, que interrompem suas carreiras e suas vidas pessoais para se dedicar exclusivamente aos pais, avós ou parceiros”, detalha Leandre.
COOPERAÇÕES E INVESTIMENTOS – No início do ano, o Governo do Estado, via Semipi, firmou duas cooperações técnicas com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para impulsionar políticas públicas voltadas à população idosa na Política do Cuidado, através do programa Paraná Amigo da Pessoa Idosa.
Em cooperação financiada pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), num valor total de U$ 100 mil, o Cadastro de Cuidadores do Paraná vai permitir o acesso a informações inéditas sobre as características das pessoas que se dedicam aos cuidados (tanto cuidadores familiares e informais quanto profissionais), possibilitando a construção de políticas públicas efetivas para este segmento.
Outra parceria com recursos de fundos do Governo do Japão (no valor de U$ 500 mil e prazo de execução de três anos), tem por objetivo a estruturação do Paraná Amigo da Pessoa Idosa, incluindo o mapeamento e qualificação da rede de atenção às pessoas idosas, a previsão de apoio e qualificação de cuidadores, e organização da atuação com foco no envelhecimento ativo e saudável.
HISTÓRIAS DE CUIDADORAS – O relato de Helenir Feitosa de Lima, de 59 anos, ilustra com sensibilidade essa realidade. Ela deixou o trabalho como educadora para se dedicar integralmente aos cuidados da filha Letícia, de 34 anos, pessoa com deficiência intelectual. Como mãe, ela enfrenta o envelhecimento e as dificuldades financeiras com amor e resiliência, em uma rotina que exige força física, emocional e vigilância contínua.
“Ser uma mãe solo e cuidadora é, ao mesmo tempo, um fardo e uma dádiva. E isso é algo que só quem vive pode realmente entender”, afirma Helenir. Ela conta que, muitas vezes, o cansaço físico se soma à solidão e à falta de apoio, especialmente por parte da sociedade. Mesmo assim, encontra forças no vínculo com a filha, que a impulsiona diariamente. “A gente aprende a ser forte porque não tem outra escolha”, completa.
Silmara Fancher é gestora de RH, casada, mãe de três filhas e concilia as demandas da sua vida com os cuidados da tia Clarimon Macedo Fancher, de 79 anos, que reside em sua casa. A tia apresenta quadro de demência e precisa de cuidados 24 horas, com supervisão de sua rotina, incluindo atenção nas atividades diárias, alimentação e medicação.
“Minha rotina é intensa. Sou diretora administrativa de uma empresa há 31 anos e responsável por cerca de 800 colaboradores. Meu dia a dia já é naturalmente cheio de demandas. Ao mesmo tempo, preciso estar presente nos cuidados com minha tia, que exige uma atenção constante, mesmo à distância, com organização de medicamentos, consultas e suporte emocional. Cada dia é um exercício de planejamento, priorização e, principalmente, paciência”, detalha Silmara.
Por outro lado, segundo ela, há uma parte muito significativa nesse processo: o vínculo afetivo que se estabeleceu com sua tia. “Cuidar dela me conecta com a minha história, da minha família paterna, com o valor da presença e da paciência. É uma experiência que exige muito, mas também me ensina profundamente sobre empatia e humanidade. Enfim, sou mãe, esposa, amiga, vó, sobrinha e profissional.
REDE GLOBAL – No final de abril, o Paraná se tornou o primeiro estado brasileiro admitido como membro afiliado da Rede Global de Cidades Amigas das Pessoas Idosas – a partir de agora vai participar do processo de certificação das cidades interessadas em serem reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Nosso objetivo é tornar todos os 399 municípios paranaenses certificados pela OMS como Cidades Amigas da Pessoa Idosa. Já somos o estado com maior número de cidades com essa certificação”, destaca a secretária Leandre Dal Ponte.
PARANÁ AMIGO DA PESSOA IDOSA – Criado em 2024, o programa Paraná Amigo da Pessoa Idosa é fruto da Lei Estadual nº 22.189/2024, sancionada pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior. O programa tem a finalidade de promover e proteger os direitos, a dignidade e o bem-estar da população idosa e de seus familiares, cuidadores e comunidade, asseguradas a intersetorialidade e interseccionalidade. O duplo olhar inclui como objeto da política pública as pessoas que cuidam, especialmente considerando que essa tarefa recai principalmente sobre as mulheres.
O programa também tem como objetivo fortalecer a rede de apoio dessa população. Para isso, serão criadas duas bolsas financeiras, voltadas tanto para a pessoa idosa em situação de vulnerabilidade quanto para cuidadores familiares. Entre as propostas estão a criação da Rede de Atenção à Pessoa Idosa, serviços de cuidado, promoção de atividades de lazer, culturais e esportivas adaptadas às necessidades deste segmento da população e o apoio aos municípios que aderirem às ações.