Comes&Bebes/Sebrae-PR incentiva as IGs
Café, cachaça, mel, torta, ostras, goiaba...
01/05/2025 às 15:01
Cracóvia de Prudentópolis, café especial do Norte Pioneiro, goiaba vermelha de Carlópolis, broa de centeio de Curitiba, bala de banana de Antonina, mel de Ortigueira, queijo colonial de Witmarsum, cachaça de Morretes, melado de Capanema, morango do Norte Pioneiro, vinho de Bituruna, mel do Oeste do Paraná, barreado do litoral, erva-mate de São Matheus, camomila de Mandirituba e uvas finas de Marialva.
Esses 16 produtos paranaenses ostentam o certificado de Indicação Geográfica, o que torna o Paraná o segundo do país em número de IGs, atrás apenas de Minas Gerais (21 registros). No Brasil, 131 produtos ostentam IGs, sendo 40 no Sul.
Esse panorama foi apresentado durante café da manhã,  terça-feira 29, na Associação de Funcionários do Sebrae, em Curitiba. Maria Isabel Guimarães, à frente dessa iniciativa desde 2010, apresentou outro número aos donos de restaurantes, jornalistas e produtores convidados: 15 outros produtos já estão em processo no INPI- Instituto Nacional da Propriedade Industrial, autarquia responsável por analisar os processos e conceder o cobiçado selo para produtos e serviços.
Qual a importância de uma IG?  Ao valorizar produtos e serviços de determinadas regiões, levando em conta características únicas e tradições, o certificado protege a região produtora, além de estimular o desenvolvimento econômico local. Para o consumidor, o selo representa qualidade e autenticidade do produto.
Essa importância foi apresentada pelo Sebrae aos produtores do Paraná em 2010, um ano depois do INPI reconhecer a região francesa de Champagne como denominação geográfica.
Em 2018, saíram os primeiros selos no Paraná. E estão em análise para obtenção do IG: mel de Capanema, pão no bafo de Palmeira, tortas de Carambeí, mel de Prudentópolis, urucum de Paranacity, queijos do Sudoeste do Paraná, carne de onça de Curitiba, café de Mandaguari, ponkan de Cerro Azul, ovinos e caprinos da região de Cantuquiriguaçu, ginseng de Querência do Norte, café da serra de Apucarana, cerveja de Guarapuava e ostras de Cabaraquara.
 Há ainda uma IG concedida a Santa Catarina, que envolve também municípios do Paraná e do Rio Grande do Sul: o mel de melato da bracatinga do Planalto Sul do Brasil.

O restaurante-escola do Senac também passou a estimular pesquisa e uso de produtos regionais certificados, como revelaram os instrutores Rafael Perim e Paulo Obedin, responsáveis pelo farto café da manhã, elaborado com produtos já certificados e os que estão em análise no INPI. Eles serviram, por exemplo, o pão no bafo, prato típico de Palmeira, originário da imigração alemã, feito com pão cozido na fervura das costelinhas suínas desfiadas.
 Destacaram o sabor surpreendente das tortas holandesas de Carambeí, terra da primeira cooperativa do Brasil e de tradição leiteira. Segundo o professor Rafael, vale conhecer as três confeitarias da cidade para saborear suas tortas que tem por denominador comum o leite especial.
O urucum, chamado Ouro Vermelho de Paranacity, também ganhou referência elogiosa. Produção sustentável, familiar, praticada no município após a geada da década de 70, que matou o café no Paraná. Nos últimos dois anos, Paranacity, devido ao clima favorável e à técnica usada, produziu duas toneladas de urucum, o colorau da cozinha brasileira.   
Não estavam à mesa, mas as ostras de Cabaraquara estão entre as melhores do mundo, pelo incrível sabor adocicado atribuído ao cultivo nas águas frias da baía de Guaratuba e ricas em nutrientes.  
Uma boa oportunidade para se conhecer e desgustar esses produtos é o Festival Gastronômico, agendado nos quatro Restaurantes-escola do Senac (Curitiba, Maringá, Matinhos e Foz do Iguaçu), nos sete Cafés-escola (no Jardim Botânico, no Belvedere e no Café do Paço, em Curitiba), no City Center Outlet, em Campo Largo, na Estação Saudade, em Ponta Grossa, e no Cadeião Cultural, em Londrina. Integrante da Semana S, do Fecomércio, Sesc, Senac e Sindicatos, o festival  será realizado, de 12 a 15 de maio. 
 
Carne de Onça é de Curitiba
 
No café da manhã do Sebrae, Sérgio Medeiros, criador da plataforma Curitiba Honesta e presidente da Associação dos Amigos da Carne de Onça (Aaonça), colocou à mesa justamente o instigante prato, astro de muitos bonecos da cidade.
A Carne Onça, que há dois anos está com pedido de IG depositado no INPI, é um quitute à base de carne bovina crua bem moída, temperada como salada, e servida em broa com cheiro verde e azeite. Em 2013, quando o Pão no Bafo de Palmeira ganhou a certificação, Sérgio Medeiros passou a pesquisar e dar visibilidade para a folclórica Carne de Onça. Com festival articulado pela Curitiba Honesta, hoje perto de 300 bares da cidade servem a iguaria que tem parentesco com pratos alemães e árabes e se tornou Patrimônio Cultural Imaterial de Curitiba.
 Sérgio   Medeiros é também presidente do Fórum Origens, instância do Sebrae/PR, que visa promover a diferenciação, a inovação e o desenvolvimento territorial sustentável por meio das Indicações Geográficas e Marcas Coletivas. E tem a participação de produtores, empresários, técnicos, acadêmicos e poder público.
Ao assumir a presidência do Fórum, ele anunciou: “Meu objetivo principal é aproximar as IGs dos cozinheiros e chefs e assim fazer com que o consumidor final tenha experiência de consumo”.

Cafés do Norte Pioneiro
 
Jonas Aparecido da Silva, da diretoria do Fórum Origens e presidente da Associação dos Cafés do Norte Pioneiro do Paraná, compareceu ao evento com amostras da produção de sua região, já ostentando o selo IG nas embalagens, obtido há seis anos. “A certificação dá confiança ao consumidor porque há todo um protocolo que o produtor deve seguir para então ganhá-lo. O selo é importante para nós porque valoriza o produto”.
  No Norte Pioneiro, o café é 100% arábico, sendo especial pela doçura (lembra chocolate e caramelo) e acidez equilibrada. A lembrar: o Paraná já foi maior produtor, mas a geada negra dizimou os cafezais do Estado em 1975. “Hoje, procuramos qualidade e não quantidade”, observa Jonas, cuja família é do ramo há cem anos com produção e torrefação em Pinhalão. “Nossos cafés especiais equivalem aos de Minas e da Etiópia”, garante.
Em Curitiba, ele comercializa a marca Ouro do Norte, estabelecida há treze anos, e encontrável apenas no Mercado Municipal do Capão Raso. Há três anos, Jonas inovou ao entregar ao consumidor a comodidade de obter um café coado no sachê. O pó vem num criativo saquinho de papel com suporte para se fixar na xícara. Basta jogar lançar água quente no coardozinho individual, mas dá para tomar o café a dois.
Perto de Pinhalão fica Carlópolis, município maior produtor de café do Paraná, com 22% da produção estadual. O Norte Pioneiro abrange ao 45 municípios e conta com mais de 120 produtores, sendo que 90% são de pequeno porte.
Primeira IG do Paraná, a cafeicultura da região é especial devido aos solos de origem vulcânica e ao clima subtropical. Mas essas características respondem também por outro produto que já ostenta a  certificação IG,  as goiabas.
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 Goiaba Vermelha de Carlópolis
 
Capital Nacional da Goiaba e desde 2016 com selo de Indicação Geográfica, Carlópolis orgulha-se de produzir a fruta mais saborosa e resistente do país. “E a mais bonita”, acrescenta o engenheiro agrônomo Rodrigo Viana, um dos 300 produtores dos mil hectares do município. Por conta também do manejo (as frutas são ensacas no pé e as podas são conduzidas), a produção nascida em quintal, chega agora a cerca de 40 mil toneladas por ano.
“Nós produzimos goiaba vermelha de mesa, para comer in natura”, observa Rodrigo Viana, lembrando que a qualidade excepcional deve-se ao japonês Iwao Yamamotoy, que chegou em Carlópolis após a geada negra de 1975 e descobriu o potencial das goiabeiras, desenvolvendo a técnica de cultivo dos pomares.
Hoje, Carlópolis responde por 70% das goiabas colhidas em todo o Paraná, estando entre as dez maiores fornecedoras do país. “Colhemos o ano todo, por dia, por mês e por ano”, observa o produtor destacando outro fator favorável do clima. Rodrigo começou a formar seu pomar há dez anos, mas seu pai colhia goiaba desde a década de 90. Uma goiabeira bem cuidada é capaz de produzir 500 frutas por ano. E uma fruta pode pesar até 700 gramas.  
“Mas por enquanto só quinze produtores estão exportando para outros países”, diz o fruticultor lembrando que a Cooperativa Agroindustrial de Carlópolis conquistou a certificação de exportação Global Gap. 
Além de café e goiaba vermelha, Carlópolis é propícia para a cultura de morango, produto que também já obteve identificação de origem. Mas essa é outra história. E vou fazer uma pausa: me deu uma tremenda vontade de comer goiaba. Servidos? Ah, antes da primeira dentada, mais uma informação: a variedade cultivada em Carlópolis é chamada de Suprema. 

 
 
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