Quatro cidades do Paraná movimentam a economia criativa com atividades culturais
Projeto Musicou, escola de educação musical gratuita, está presente em Andirá, Jacarezinho, Porecatu e Santa Mariana
30/04/2025 às 17:03
Equipe Musicou na UENP na inauguração do Musicou Jacarezinho. Foto Divulgação

O setor cultural brasileiro tem apresentado resultados promissores nos últimos anos, revelando seu potencial como motor econômico e vetor de transformação social. Contudo, os profissionais da área ainda enfrentam grandes desafios que reforçam a importância de políticas públicas de fomento e de iniciativas sociais contínuas para garantir seu desenvolvimento sustentável. 

Sustenidos é um exemplo de organização social de cultura que movimenta a economia criativa. Além de gerir o Theatro Municipal de São Paulo e o Conservatório de Tatuí (equipamentos públicos do município e do estado de São Paulo, respectivamente), a Sustenidos também criou e implantou o projeto de educação musical gratuito Musicou, que por meio de atividades regulares internas e eventos externos, gera dezenas de empregos formais há mais de três anos. No Paraná, o projeto está presente em Andirá, Jacarezinho, Porecatu e Santa Mariana.

“As parcerias locais destacam funcionários de suas instituições para serviços de limpeza, produção dos lanches, segurança, transporte e apoio logístico. Também são contratados prestadores de serviços pontuais, como locação e técnica de sonorização dos eventos, produções audiovisuais e registros fotográficos, conta a coordenadora pedagógica do Musicou, Sara Dellano.

De acordo com levantamento realizado pelo painel de dados do Observatório Itaú Cultural, a economia criativa registrou um crescimento expressivo em 2023. Foram 7,8 milhões de novas vagas de emprego, o maior número desde 2012A expansão de 4% na oferta de empregos no setor cultural superou o crescimento da economia geral, que foi de 2%.

Segmentos como moda, artesanato, editorial, audiovisual, música, tecnologia e desenvolvimento de jogos foram os que mais impulsionaram esse avanço. A taxa de formalidade também apresentou melhora, subindo 3% e alcançando 63% dos trabalhadores do setor — um total de 4,9 milhões de pessoas empregadas formalmente. A remuneração média no setor, de R$ 4,5 mil, se destaca frente à média nacional de R$ 3 mil.

Apesar desses dados animadores, especialistas alertam: o desenvolvimento sustentável da cultura só é possível com políticas públicas contínuas e bem estruturadas. “O resultado é muito promissor e comprova que investir em cultura movimenta a economia, promovendo o desenvolvimento do país e gerando emprego e renda”, destaca Henilton Menezes, secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural do Ministério da Cultura (MinC).

Um dos exemplos mais impactantes dessa atuação governamental é a Lei Paulo Gustavo (LPG), que destinou R$ 3,9 bilhões em investimentos para projetos culturais em todo o país. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), cada R$ 1 investido pela LPG gerou um retorno de R$ 6,51 para a economia local — evidência clara do potencial multiplicador da cultura.

“Temos dados que não deixam dúvidas de como projetos culturais aquecem a economia, geram empregos e aumentam a arrecadação de tributos. Portanto, dinheiro para cultura não é gasto, é investimento”, revela Roberta Martins, secretária dos Comitês de Cultura do MinC.

A LPG também se destaca como símbolo de resistência da classe artística e homenagem ao ator Paulo Gustavo, vítima da Covid-19. A iniciativa contribui para o fortalecimento de um setor que, além de gerar impacto econômico, preserva o patrimônio imaterial do país e promove desenvolvimento regional com equidade.

Musicou: três anos de geração de empregos e transformação social através da música

Além das políticas públicas, projetos sociais como o Musicou, iniciativa da Sustenidos Organização Social de Cultura, mostram como a cultura pode transformar realidades e gerar empregos. Criado há três anos com o objetivo de democratizar o acesso à música e promover a cultura em diferentes territórios do Brasil, o Musicou gera dezenas de empregos diretos e indiretos por meio de seus 13 núcleos distribuídos em cidades de quatro regiões do Brasil. Além dos educadores musicais, conta com uma estrutura robusta que envolve equipes de produção, coordenação e apoio logístico, contribuindo para o desenvolvimento local e a valorização da cultura.

Musicou já atendeu mais de 170 mil pessoas, entre alunos e a comunidade local que participam dos eventos do projeto. No Paraná, o projeto movimenta a economia criativa e gera empregos nas cidades de Santa Mariana, Porecatu, Andirá e Jacarezinho.

“Nos cursos regulares, vemos alunos formando grupos que começam a se apresentar em seus círculos sociais, como nas escolas, igrejas e confraternizações. Temos inclusive uma aluna que já se prepara para prestar vestibular de música”, conta Sara Dellano.

“Nas ações de curta duração do Musicou, nós atendemos também músicos que já atuam profissionalmente e se interessam em buscar aperfeiçoamento em temas específicos, como no caso do 'Musicou Convida com Vinicius Lordelos' em Jacarezinho, focado em percussão para baterias de escolas de samba, ou nas Oficinas de Férias como 'Estudio Livre Musicou', de Andirá, e 'Arranjo Musical na Pratica', em Porecatu”, complementa a coordenadora do Musicou..

O projeto oferece ensino coletivo de música a crianças e jovens de 6 a 18 anos, com cursos de violão, percussão, canto coletivo, sanfona, flauta doce, viola caipira e até música com tecnologia. A atuação do Musicou vai além das salas de aula, alcançando instituições como CRAS, CREAS, APAEs, ONGs e escolas públicas, por meio de parcerias locais.

Já as atividades abertas à comunidade são parte da rotina dos núcleos Musicou, seja participando de eventos comunitários, como festas de aniversário da cidade, feiras e festivais locais, seja com ações planejadas para públicos específicos. “É o caso, por exemplo, do  Musicou Visita, onde educadores conduzem dinâmicas musicais com alunos do Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio, no próprio ambiente escolar, e também em outros ambientes, como Casas de Repouso, CRAS, ONGs e Universidades, ou as Visitas Culturais, onde o público das  instituições são convidados a conhecer o núcleo, em aula especialmente preparada para eles”, diz Sara.

“Além disso, realizamos Mostras de Processo ao final de cada semestre, com objetivos pedagógicos de estimular a prática de tocar ao vivo, integrar os alunos com a formação de grupos, e acostumá-los, aos poucos, a se apresentar para público da comunidade”, complementa ela.

Só em 2024, o Musicou Convida, um projeto de intercâmbio entre artistas consagrados da música com os alunos, atingiu um público de mais 29 mil pessoas. Durante três meses, centenas de trabalhadores, principalmente das áreas de produção de eventos, audiovisual e logística, atuaram nas diversas oficinas artísticos-pedagógicas e shows realizados pelo programa.

Já iniciativas como o Espaço Musicou, que disponibiliza instrumentos musicais para uso comunitário fora do horário das aulas, e programas como o Musicou Lab e o Musicou Orienta, voltados à tecnologia musical e mentoria artística, o projeto amplia ainda mais seu alcance e relevância. No ano passado, alunos que utilizaram dos recursos dos programas Musicou Lab e Musicou Orienta, hoje, se apresentam artisticamente, movimentando a economia criativa com shows.

Segundo avaliação recente com os participantes do Musicou, mais de 90% dos alunos elogiaram a qualidade dos educadores e a convivência nos núcleos. Além disso, 23% relataram melhorias diretas em sua saúde e bem-estar graças ao projeto. Financiado exclusivamente por patrocínios – tanto diretos quanto via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) –, o Musicou comprova o poder transformador da música e da cultura quando apoiados por iniciativas privadas comprometidas com o impacto social.

Diante de um cenário de crescimento, mas também de vulnerabilidade, o setor cultural brasileiro reafirma a necessidade de um compromisso contínuo com políticas públicas robustas e com projetos sociais que enxergam a cultura como ferramenta de inclusão, cidadania e desenvolvimento. A cultura, ao se mostrar cada vez mais como uma engrenagem fundamental da economia e da vida em sociedade, precisa de investimentos duradouros para seguir avançando, inovando e transformando vidas.

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