por Sérgio Odilon Javorski Filho
No Japão, os professores são os únicos profissionais que não precisam se curvar diante do imperador, isto porque, em uma terra sem professores, não existiria imperador.
Em território brasileiro, sucede o contrário. Os educadores só não se abaixam mais, pois já se encontram no fundo da vala, cada vez mais em tempos de perseguição à liberdade de pensamento e de ensinamento dentro das escolas, cuja narrativa distorcida é de que os professores estariam doutrinando os alunos. Todos já assistiram essa novela, há pouco mais de 60 anos, para justificar o golpe militar de 1964, assim como para mantê-lo aceso por mais duas décadas. Os personagens mudam, a tática propagandista e a manipulação do povo não.
Há 10 anos, no dia 29 de abril, o Paraná recordou e lamentou umas das cenas mais bárbaras já vistas contra os educadores das redes públicas do Estado. À época, diante da pressão imposta pelo volume de professores adeptos à greve que ganhou corpo em protestos contra a aprovação de um projeto de lei que prejudicaria a aposentadoria de mais de 33 mil servidores com mais de 73 anos, policiais desferiram tiros de borracha, soltaram cachorros e pisotearam com cavalos a elite intelectual da cidade.
Ao invés de seguir o exemplo dos imperadores japoneses, Beto Richa decidiu pela linha do ex-governador Álvaro Dias, em cujo mandato, educadores que pleiteavam melhorias nas escolas públicas, investimentos em ensino e salários dignos foram covardemente atacados com cavalos, cães e bombas de efeito moral.
O dia 29 não foi diferente. A cavalaria partiu para cima dos professores, como nunca fez anteriormente contra nenhum criminoso de alta periculosidade. Aliás, em interrogatórios policiais, quando o depoente é de alta periculosidade, até cafezinho a polícia serve, sempre referindo-se ao apontado autor como “Senhor”.
Contudo, há que se concordar: professores realmente são a mudança, não porque doutrinam. Pelo contrário, por ensinarem a pensar e, quem pensa, encontra a chave para nunca mais ser massa de manobra política, na relação de trabalho e na vida social como um todo.
A abolição da escravatura não deu certo porque o modelo de elitização do saber continua o mesmo. O não desenvolvimento crítico da inteligência mantém a ordem das coisas, seja por qual denominação for. Sem a propagação do conhecimento, democracia não passa de uma palavra solta dentro de um contexto organizado para a divisão das classes sociais em uma sociedade. Castra-se propositalmente a única forma de adquirir a verdadeira liberdade. Assim, a grande massa permanece com cabresto, movimentando-se conforme a vontade do boiadeiro. Vai para a esquerda! Vai para a direita!
No fundo, o cavalo não sabe para onde está indo e sequer tem pretensão de chegar a algum lugar. O importante é seguir a maioria, nem que seja até o precipício. Efeito estátua!
O massacre do Centro Cívico deixou centenas de machucados e de humilhados. Em pouco tempo, as feridas dos bravos professores cicatrizaram. Por sua vez, os militares que agrediram quem os ensinou a ler e escrever, para que passassem no concurso da PM, perambulam pelas esquinas da capital, leprosos, com as chagas incuráveis do mal-agradecido.