Com tecnologia e precisão, neurointervenção revoluciona tratamento e prevenção de AVCs
29/04/2025 às 17:32
Foto: Divulgação
Doença está entre as que mais matam no Brasil, com mais de 100 mil óbitos ao ano, de acordo com a Sociedade Brasileira de AVC. Tratamentos minimamente invasivos ajudam na recuperação e prevenção de sequelas

Até meados da década de 1990, havia pouco o que os médicos poderiam fazer quando um paciente chegava à emergência dos hospitais com sintomas de um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico. Com o passar dos anos, o cenário começou a mudar, graças à evolução da hemodinâmica e tratamentos como a trombectomia mecânica, que consiste na retirada do coágulo que causa a obstrução da artéria cerebral. 
Essa mesma precisão vem mudando também a forma como o AVC hemorrágico, que ocorre quando um vaso cerebral é rompido, é prevenido. Por meio de exames avançados e procedimentos como a embolização de aneurismas, por exemplo, é possível evitar esses rompimentos com alto risco de sangramento.
O AVC é uma das principais causas de morte no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de AVC, o número de óbitos causados pela doença cresceu quase 8% em cinco anos - de cerca de 103 mil em 2019 para cerca de 112 mil em 2023. “As mortes por AVC no Brasil ultrapassaram as mortes por infarto nesse período”, alerta a médica Luana Antunes Maranha Gatto, neurorradiologista intervencionista do Hospital São Vicente, em Curitiba. 
Por isso, reforça a especialista, é tão importante falar em prevenção. E essas medidas passam, naturalmente, por manter uma rotina saudável, com alimentação e sono equilibrados, além da prática regular de exercícios físicos. “Também percebemos uma tendência de check-ups neurológicos, com exames clínicos e de imagem, para pessoas acima dos 40 anos ou que já tenham algum histórico de AVC ou aneurisma na família”, completa. 
Detecção precoce do aneurisma cerebral
Com apenas 15% dos casos de AVC registrados no país, o do tipo hemorrágico é o que pode ter o pior desfecho, avalia Luana. A neurointervenção atua, nestes casos, quando acontece a detecção precoce por meio de exames, em geral, realizados em função de outras queixas de saúde. “É comum que o paciente faça um rastreio em busca da causa de uma enxaqueca, perda de memória ou algo parecido e receba o diagnóstico de um aneurisma ou de um entupimento de um vaso cerebral, de forma acidental, com potencial de AVC”, conta.
Quando isso acontece, o paciente pode ser submetido a uma cirurgia de crânio aberta para que se tenha acesso a esse vaso e se contenha o risco de rompimento; ou ao tratamento endovascular no setor de hemodinâmica, por meio do cateter (um tubo de silicone muito fino) introduzido pela região da virilha ou do punho em pequenas incisões para que se feche o vaso com micromolas de platina ou stents. “Estamos falando de um tratamento minimamente invasivo, que é sempre preferível, com alta hospitalar precoce e menos risco de infecção”, enumera a médica. “E de prevenção, que evita a mortalidade que pode chegar a 50% dos casos, quando um aneurisma se rompe”, completa.
A favor do tempo
Se no AVC hemorrágico, o diagnóstico precoce pode salvar vidas, é o tempo que determina o sucesso no tratamento do AVC isquêmico. Isso porque, de acordo com a neurorradiologista, quanto mais tempo os neurônios forem privados de oxigênio na obstrução das artérias cerebrais, há mais risco de sequelas e mortes. Mas, antes da hemodinâmica, esse tempo era ainda mais precioso.
A medicação anticoagulante que surgiu na década de 1990, a trombólise endovenosa (medicação que dissolve o coágulo por via intravenosa), só pode ser administrada em até 4,5 horas após os primeiros sintomas do AVC isquêmico. “E isso é um problema, especialmente no Brasil. Além da dificuldade de a maior parte da população identificar os sintomas rapidamente, temos a questão logística de espera de ambulâncias ou da chegada a um serviço de emergência”, diz.
Ao contrário da medicação, a trombectomia mecânica pode ser realizada em uma janela de 24 horas após os sinais de alteração neurológica súbita. “Trata-se da remoção desse coágulo por meio do cateterismo, uma cirurgia minimamente invasiva, sem abertura do crânio, feita por via endovascular. O cateter entra pela artéria femoral ou radial e viaja pelos vasos do paciente, até chegar ao ponto em que há bloqueio e o remove por aspiração ou com a colocação de uma malha de stent”, explica. 
Enquanto um a cada nove pacientes tratados por trombólise endovenosa consegue recuperar sua independência, um em cada quatro pacientes submetidos à trombectomia mecânica nas primeiras seis horas fica totalmente independente. O melhor dos cenários, defende a médica, é que se consiga combinar os dois tipos de tratamento. 
Sinais de alerta
Independente do tratamento, a médica reforça a importância de saber reconhecer as alterações neurológicas decorrentes ou que podem causar os tipos de AVCs. Entre elas, estão a perda de força e/ou de sensibilidade nos membros de um lado só do corpo; alteração da comunicação, afetando a fala e/ou a sua compreensão; e alteração visual súbita. São menos comuns a dor de cabeça intensa, descrita como “a pior da vida”; crises convulsivas; e a alteração de coordenação ou equilíbrio que não melhora.
O serviço do Hospital São Vicente conta com um protocolo de AVC com procedimentos e tempo de atendimento pré-estabelecidos. Esse nível de organização garante que o paciente seja rapidamente avaliado e assistido com máxima segurança, favorecendo sua recuperação.
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