
Foto: Daniel Castellano/SMCS (arquivo)
por Luiz Felipe Leprevost
Há quem diga que o Carnaval de Curitiba não é bem visto por aquela parte da sociedade que ainda não se interessou em sintonizar com suas cores e ritmos. Daí valeria a equação: quem desconhece, tem preconceito. Por outro lado, o nosso carnaval tem deixado cada vez mais de ser um detalhe no quadro geral de preciosidades que Curitiba revela, ao conviver bem demais, especialmente, com o centro histórico. Apesar de tantos não se deixarem levar pela folia, resguardado seu direito, ainda assim, talvez estejamos num caminho de profissionalização do Carnaval e envolvimento maior por parte da sociedade. O pré-Carnaval e a presença das Escolas na avenida, se não me engano, nunca tiveram o tamanho e o apoio que hoje têm.
Farei uma digressão. Recentemente, o Moinho Anaconda — que em 1950 se erguia sobre o território da histórica Vila Tassi, reduto originário do samba produzido por aqui — recebeu magnífico painel assinado pelo artista visual Kobra, entrando ainda mais no roteiro turístico da cidade. Da Vila restaram apenas três casas, entre elas a do bamba Maé da Cuíca. A Vila Tassi poderia restar esquecida sob as engrenagens do progresso. Mas esse não é o seu destino. O samba tassiano segue vivo com as novas gerações.
Olhando para esse cenário, nos meus sonhos de poeta, vislumbro uma praça com bustos que homenageiam os sambistas que, com sua arte, deram os primeiros sopros de vida ao nosso Carnaval, criando ali a Escola de Samba Colorado. Enxergo um museu de preservação da memória da Vila Tassi. Escuto as vozes, as melodias, os ritmos que ecoaram nas vielas e nos corações daquela comunidade. E por que não sonhar mais alto, com uma escolinha de música nas imediações, que contribuia para que a gurizadinha da Vila Torres, por exemplo, tenha adversidades, desditas, infortúnios afastados de suas vidas? Bernardo Brandão, ritmista do Bloco Boca Negra, me conta que, na verdade, os passos iniciais para tal proposta foram já dados pelo pessoal do Boca, a fim de que a antiga casa do Maé seja transformada em Centro Cultural e Memorial do Samba. É uma ótima pedida, não?
O painel do Kobra, a revitalização no entorno do Mercado Municipal, o Estádio Durival de Britto com os jogos e os shows de grande porte, a própria Linha Férrea, além do Jardim Botânico, tudo isso forma desde já um eixo de cultura urbana bastante atrativo para o turismo e a população em geral.
Sei que no Carnaval, diferentemente do que ocorre em outras festas coletivas (Natal, Páscoa), não é costume desejarmos aos outros isso ou aquilo. Mas nesse Carnaval quero desejar que o samba, com sua poesia, reverbere em vossos corações. Desejo que sigamos nessa senda em que a história entrelaça com os fios da arte passado, presente, fazendo ecoar na voz da cidade o espírito de suas ancestralidades.