Dia da saudade: o momento do cuidado com o luto (30/01)
20/01/2025 às 17:12
Entre tabus e memórias, a história de quem aprende a lidar com o sentimento mais profundo da língua portuguesa 

Em muitas culturas, a palavra “saudade” se faz presente como algo intraduzível, um misto de lembrança e falta, dor e alegria. É o que explica a psicóloga Luiza Sionek, ao afirmar que o termo “envolve não só a recordação do que foi vivido, mas também a imaginação do que não ocorreu”. No Jardim da Saudade, um parque-cemitério em que a natureza e a arquitetura se mesclam ao ritual de despedida, esse sentimento ganha ainda mais força. Segundo André Leão, representante do espaço, “o objetivo é oferecer um local acolhedor para lidar com a dor da perda, sem deixar de celebrar a vida”.

A saudade, portanto, não é apenas uma: pode estar ligada ao que existiu e foi bom, mas também ao que nunca aconteceu de fato. “Existe a saudade nostálgica, que recorda a infância ou momentos de felicidade, e aquela saudade mais dolorida, que machuca por trazer de volta algo que não retorna”, diz Luiza, sintetizando as diferentes formas de sentir falta. Esse espectro abrangente explica por que a morte é tratada como tabu em muitas sociedades: o temor de encarar o fim e o desconhecido leva pessoas a evitarem o assunto, o que atrapalha o processo de elaboração do luto. Ao se esquivar dessa conversa, cria-se uma barreira entre a dor e a aceitação, postergando uma cura emocional que poderia começar antes mesmo da partida.

Nos espaços de despedida, como o Jardim da Saudade, a ambientação ajuda a suavizar esse momento. Em vez de estruturas sombrias e fechadas, um cemitério-parque promove reflexão ao ar livre e contato com a natureza, contribuindo para uma vivência menos pesada do luto. “A conexão com o verde, com o céu aberto, ajuda a reformular a relação entre morte e vida, reduzindo a sensação de isolamento”, comenta André Leão. Não há prazo definido para que a saudade “se torne saudável”, mas, segundo Luiza, respeitar o tempo de cada indivíduo faz toda a diferença. “Alguns podem levar meses para encontrar conforto; outros precisam de anos. O importante é reconhecer que o processo é singular.”

Rituais de despedida surgem como uma forma de tornar a perda mais tangível. A missa de sétimo dia, a reunião de familiares e amigos, ou o simples ato de acender uma vela contribuem para reelaborar a dor. Conforme as novas gerações se envolvem mais com tecnologia, muitas famílias adotam transmissões online de cerimônias e até espaços virtuais de memória. “Não há nada de errado em unir tradição e inovação”, reforça André. “O que importa é propiciar um ambiente em que as pessoas possam se sentir genuinamente acolhidas. Esse cuidado se estende também aos pets: para muitos, o luto pela perda de um animal de estimação é tão real quanto por um ente querido. Luiza observa que “o vínculo afetivo não conhece hierarquia, e a dor pela ausência de um companheiro fiel merece atenção”.

A presença de animais no dia a dia tem um impacto enorme no bem-estar emocional de quem sofre. Seja pelo apoio afetivo ou pela companhia constante, há cada vez mais estudos comprovando que a perda de um pet acarreta sentimentos intensos de falta e desamparo. “O luto por um pet é completamente válido”, afirma Luiza. “É uma relação de amor e dependência mútua, e isso não deve ser minimizado.”
As novas gerações, mais acostumadas às redes sociais e às dinâmicas virtuais, tendem a encontrar refúgio em grupos online de apoio e em tecnologias que mantenham viva a memória de quem partiu. Já as gerações anteriores seguem uma linha mais tradicional, preferindo encontros familiares e rituais religiosos. “Ambos os caminhos são importantes; o fundamental é reconhecer que não há uma forma correta ou errada de sentir saudade”, diz André.

Compreender a saudade em suas múltiplas dimensões exige disposição para mergulhar em sentimentos ambíguos: o que foi, o que não foi, o que está sendo. De acordo com Luiza, não há uma fórmula exata para curar a saudade, mas acolher esse sentimento ajuda a transformá-lo em força para seguir em frente. Já André Leão, em nome do Jardim da Saudade, ressalta que o espaço busca equilibrar natureza, arquitetura e acolhimento para proporcionar reflexões serenas sobre a vida, a morte e tudo que permeia entre elas. Afinal, como lembram ambos, cada geração, cada família e cada indivíduo tem sua forma única de lidar com o vazio deixado por quem se foi — e é justamente nessa singularidade que a saudade se mostra tão universal.

Jardim da Saudade
André Leão
Representante do Jardim da Saudade
0800 007 0001
@grupojardimdasaudade
https://www.jardimdasaudade.com/jardim-da-saudade-curitiba/
Cemitério Jardim da Saudade, Rua João Bettega, 999 | Portão, Curitiba | PR

Luiza Sionek
Psicóloga
@luizasionek
Comentários    Quero comentar
* Os comentários não refletem a opinião do Diário Indústria & Comércio