Saci é presente para milhares de crianças
16/10/2024 às 16:50

A escritora e jornalista paranaense Joanita Ramos começou a distribuição gratuita (incialmente mil exemplares) de seu livro infantojuvenil Cadê a Perna do Pererê?, ilustrado por Márcia Széliga (Editora Cântaro). O presente para a criançada remete ao Dia do Saci, que se comemora em 31 de outubro e que – segundo ela defende – “é, ou deveria ser, uma festa mais significativa para os brasileiros do que o Hallowen”.

No dia 30 de outubro acontecerá o lançamento oficial do livro, na Casa da Cultura de Campo Largo. Também está disponível grátis em www.containercultural.com/sofiaeosaci, mas, segundo a autora, o melhor modo de democratizar a literatura infantojuvenil é distribuir o livro físico gratuitamente a crianças da escola pública, pois muitas ainda não têm acesso a meios digitais ou não têm a cultura de consumir livros eletrônicos.

A distribuição começou ontem no Quilombo Palmital dos Pretos, a 85km de Curitiba. “Fazer o pré-lançamento numa comunidade preta rural tem tudo a ver comigo e com o livro”, diz ela, que é branca e integrante de uma família interracial. Explica que buscou, nessa obra, oferecer uma possibilidade de as crianças pretas ou pardas, e também as que têm deficiência física, encontrarem protagonistas com as quais possam se identificar – o que ainda não é frequente nas bibliotecas e livrarias tradicionais.

“O folclore brasileiro é um prato cheio para os pais e educadores alimentarem conversas que atualizem as noções de escravização e propiciem abordagens sobre a diversidade humana”, diz a autora, lembrando que Saci, como diz a lenda, é preto e PCD (pessoa com deficiência). Assim como é preto e Negrinho do Pastoreio, escravizado e castigado até a morte por não ter conseguido encontrar um potro perdido.

No livro, Joanita conta a história de Sofia, uma menina preta que, ao descobrir que o Saci Pererê não tem uma perna, pede ao Negrinho do Pastoreio que vá em busca do membro perdido. Sofia, assim como o Saci, também teve uma perna amputada, o que não a impede de viver com alegria, utilizando os recursos da ciência para uma vida permeada de atenção, afeto e imaginação, como é o direito de qualquer criança.

Além das oferecer às crianças um pouco de poesia e ilustrações de qualidade, como a arte de Márcia Széliga, o objetivo de Joanita é estimulá-las à aceitação de si mesmas e dos colegas, em suas peles de diversos tons e em seus corpos, ainda que sejam "fora de padrão". O desafio da escritora é sensibilizar gestores e obter apoio para que o livro chegue a crianças de todo o Brasil, e gratuitamente às escolas públicas. “Os mil livros são só o começo... Esse Pererê vai bem mais longe”, garante.

O Projeto foi aprovado com o apoio da Prefeitura de Campo Largo e realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo – Ministério da Cultura – Governo Federal.

A aurora

JOANITA RAMOS é jornalista, escritora, diretora de produção cultural e educadora. Mestre em Educação pela UFPR. Entre os vários prêmios e homenagens recebidas destacam-se o título Jornalista Amigo da Criança, concedido pela Rede Andi/Unicef e Fundação Abrinq, por textos em defesa da infância e adolescência no Brasil; Troféu Dignidade Solidária (1999), como Jornalista Destaque; Placa de Homenagem da Rede Paranaense de Comunicação, pela atuação como Coordenadora do Projeto Ler e Pensar; e Prêmio Outras Palavras, de Obras Literárias, da Secretaria de Estado da Cultura/PR, pelos textos Patraca, o Palhaço Astronauta e Tíbeti, o Gnomo, escritos por ela para ciranças, e montados pela Companhia Filhos da Lua e Companhia do Abração, respectivamente. Foi também finalista da primeira edição do Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo e professora convidada de pós-graduação em Jornalismo Literário da Academia Brasileira de Jornalismo Literário - ABJL. Atuou como jornalista, por 10 anos, em Suplemento de Cultura no Paraná, e teve textos dramatúrgicos encenados por diretores como Mauro Zanatta, Enéas Lour, Maurício Vogue e Letícia Guimarães (Cia. do Abração).

 

Comentários    Quero comentar
* Os comentários não refletem a opinião do Diário Indústria & Comércio