As Oliveiras Budrus
17/10/2023 às 16:40
por Sérgio Odilon Javorski Filho
           
Contra mísseis, escavadeiras, metralhadoras e exércitos, as Oliveiras Budrus seguem invencíveis, produzindo o fruto mais puro e saboroso.
Coberto de sangue e pólvora, o solo Palestino produz o que foi feito para produzir. Resiste ao impossível. Recusa desistir. Desertar nunca foi opção. 
Não há muro que possa vencer o sentimento fraternal de um povo por sua terra natal.
Por debaixo do véu, resplandece o olhar da força encobrindo o medo. Em frente às máquinas mortíferas, as Oliveiras Budrus se engrandecem e ficam mais verdes, com cor e pureza próprias das esmeraldas.
É desta força que vem o sabor incomparável e precioso de seu fruto. Sua arma vital, a coragem, semeada sobre sangue inocente derramado, dá vida à mais bela expressão do amor, alimenta o espírito, mantém vida contra todos as previsões, por um destes mistérios que somente o milagre consegue explicar. Seu gosto é inconfundível, incomparável, inegociável.
Ah se todas as árvores tivessem a persistência das Oliveiras Budrus. Mesmo quando extirpadas da terra, seguem existindo. Têm vida eterna. Transcendem a matéria.  
As Oliveiras Budrus não se importam com riquezas mundanas. Só querem o solo massacrado por tempestades artificiais, para cultivarem a lembrança sofrida de seus antepassados e manterem acesa a chama de sua origem. Seu tesouro está no que não se pode ver com os olhos amaldiçoados pela ganância.
O pecado das Oliveiras Budrus foi enxergar o que é invisível ao restante da humanidade, cuja preocupação está mais em pedir o que não precisa do que agradecer por tudo que possui.
As Oliveiras Budrus já nascem completas. Sua luz intensa, tão reconditamente, que somente os sentidos da alma podem apreciar. Os inimigos não as ameaçam. Armas de fogo podem lhes atingir o corpo, jamais o espírito, onde guarda todo o seu sabor.
Retratadas pela cineasta Julia Bacha, no longa metragem “BUDRUS”, de 2009, as Oliveiras Budrus vivem em um vilarejo localizado na fronteira entre a Cisjordânia e Israel. Nascem ao som das explosões, alimentam-se da esperança e matam a sede com a água salgada que vaza dos próprios ramos. Nem com as perdas de seus preciosos galhos, em uma guerra inacabável, injustificável, não se deixam para trás umas às outras. Preferem a vida escassa com perigo à fartura da calmaria de uma morte covarde. Sabem viver e sabem morrer.  
As Oliveiras Budrus geram outras Oliveiras Budrus, cuja valentia não passa despercebida às máquinas do horror. Oliveiras Budrus maiores e Oliveiras Budrus menores enfileiram-se unidas por um vínculo celestial. Ombros com ombros, enfrentam o muro do preconceito, e recriam a faixa de humanidade. Protegem-se umas às outras. Choram umas pelas outras. Não recuam, tanto umas quanto outras.
Nesta inconsequente e desumana guerra de adultos, “Eu fico com a pureza da resposta das crianças”, lado a lado, desarmadas – jamais desalmadas –, combatendo de frente a escavadeira, por seu amor incondicional às Oliveiras (Entres aspas, trecho da canção “O que é... O que é”, de Gonzaguinha).
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