Avanço tecnológico
31/03/2023 às 00:04
Foto de Paul Frenzel na Unsplash
por Maria Lucia Wood Saldanha
 
Meu pai tinha seu escritório de contabilidade em casa e eu, desde criancinha, adorava colocar papel numa das suas máquinas de datilografar e, somente com os dedos indicadores, ia escrevendo meu nome e palavras. Com quatro anos eu já sabia ler e escrever. E aquela máquina foi um baita exercício de alfabetização, pois aguçava minha curiosidade em aprender novas palavras. Com o tempo aprendi a usar todos os dedos e com cerca de dez anos já era uma exímia datilografia.
Formei-me em Direito em julho de 1991. Fui trabalhar com minha irmã, que já era advogada. No escritório dela tinha uma máquina de escrever elétrica. Aquilo era uma maravilha. Não havia necessidade de calcular a margem direita dos textos, pois ela fazia tudo sozinha. Fora que esteticamente as petições ficavam bem mais apresentáveis. Redigíamos tudo a mão e depois íamos para a tal máquina. Não foram poucas as vezes que copiei errado uma ou mais linhas inteiras, quase no final da folha. Ai a solução era rasgá-la e datilografar tudo de novo. Também não tinha como salvar o trabalho feito. Se surgisse um caso idêntico, tínhamos que repetir todo o trabalho de datilografia. Quando me formei também não existia celular. Adquiri o meu primeiro em 1994; um Motorola PT 550.: um verdadeiro tijolo, cuja única função era fazer e receber ligações.
Algum tempo depois, ela adquiriu um computador, com uma impressora matricial. Escrevíamos e salvávamos tudo em disquetes. E com eles era possível reaproveitar o que escrevíamos em outros processos semelhantes. Foi um grande avanço tecnológico. Logo em seguida surgiu a internet discada e o fax. Aquilo, então, era o máximo. Não sei bem ao certo, mas creio eu que tudo isso foi num período de cinco anos.
Depois os computadores, impressoras e celulares foram se aprimorando. As pessoas começaram a utilizar com mais frequência o email, a internet chegou ao que é hoje e surgiram as tais nuvens, onde podemos armazenar muitas coisas.
Fiz essa longa introdução para imaginar se eu tivesse recebido o diagnóstico de ELA há trinta anos. Creio que eu rogaria a Deus para me levar logo. Não me atenho nem aos avanços da medicina, que foram poucos no tocante a doença, mas aos avanços tecnológicos, principalmente com relação à comunicação.
Hoje, mesmo não falando e nem conseguindo me mexer, tenho um dispositivo que capta os movimentos dos olhos e eu posso interagir com as pessoas e o mundo, digitando com o olhar. Isso se chama tecnologia assistiva, que é todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão. Esse dispositivo custava, há dez anos, em torno de vinte e cinco mil reais.
No entanto, aqui no Brasil, uma pessoa descobriu que um outro dispositivo fabricado pela mesma empresa, utilizados para jogos, poderia ser usado também para a comunicação assistiva, já que tem um software gratuito disponível na internet. Esse aparelho custa pouco mais de dez por cento daquele, possibilitando que mais pacientes tenham acesso e, consequentemente, qualidade de vida.
Sou de uma geração que, graças a Deus, teve um enorme avanço na tecnologia assistiva. E isso me faz querer viver.
Nessa semana foi implantado na minha cadeira de rodas um suporte com um tablet que vai me proporcionar interagir com as pessoas, ao sair de casa, pois até então eu usava só uma placa de comunicação, dificultando proferir grandes frases. Esse suporte foi desenvolvido pela mesma pessoa que mencionei acima e que merece ser parabenizado, por amar o que faz e por pensar sempre em proporcionar o melhor aos pacientes.
Muito obrigada, Ronaldo Bispo dos Santos! Você é o “cara”!
 
 
 
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