
(*) Marcos José Valle
Imagine a seguinte situação: você está dirigindo em uma via única, mantendo uma velocidade constante. A pista está livre, então você sente que pode ir mais rápido, mas, ao encontrar obstáculos, é necessário reduzir. Esse obstáculo pode ser outro veículo ou uma estrada em más condições. Em uma pista livre, é possível ultrapassar; em um trecho ruim, é preciso desacelerar para seguir com segurança. Frear um veículo em movimento é uma ação gradual — não é possível parar de imediato. Quando a frenagem parece insuficiente, é preciso intensificar a força e reduzir ainda mais a velocidade.
Para quem dirige, isso é familiar. Mas, aqui, falamos de economia, não de direção. O Banco Central (Bacen) tem como prerrogativa monitorar o "tráfego" dos mercados e o comportamento dos "passageiros" (produtores e consumidores) para garantir uma "viagem" segura rumo ao crescimento econômico. Às vezes, a condução é ousada, com um ritmo mais acelerado; em outros momentos, é cautelosa, evitando sacolejos e choques desnecessários.
Nesse sentido, o Bacen “pisa no freio” e eleva a taxa básica de juros em 0,5%, alcançando 11,25%, após dois ajustes consecutivos. O objetivo é evitar um "choque" com o “veículo à frente”: a inflação. No início do “trajeto” rumo a 2024, a meta era uma inflação de 3%, com margem de até 4,5%. Porém, com o crescimento acima do esperado, a inflação deve ultrapassar o limite, podendo chegar a 4,8%.
Controlar a economia é mais complexo que dirigir um carro, e os “condutores” — Bacen e Governo Federal — têm acesso aos freios e aceleradores. Suas ações impactam os “passageiros” de forma diferente: quem não tem pressa vê com bons olhos a redução do consumo, enquanto outros preferem um crescimento mais rápido. Essa ansiedade não se resume ao oportunismo, mas reflete a busca por melhores condições de vida. Quem está em uma posição mais confortável sente menos os “sacolejos” da economia do que quem está em “bancos mais duros”.
Os condutores buscam o que é melhor para todos, mas divergem nos métodos. No momento, o Bacen quer preservar o poder de compra, desestimulando os gastos e reduzindo os investimentos na produção. O Governo Federal, por sua vez, espera que o aumento da produção traga mais competitividade, o que pressionaria os preços para baixo e manteria o consumo, visando uma melhor distribuição de renda.
Nos acostumamos a ver a Selic cair e o crescimento econômico mostrar sinais positivos, mas agora vemos um novo capítulo: a inflação voltou a crescer e a afetar o poder de compra dos consumidores.
Atualmente, a expectativa é que o Bacen aumente ainda mais a taxa de juros, uma vez que a inflação está acima da meta e é necessário estabilizar a economia. Para evitar um novo aumento dos juros, o Governo Federal pode “tirar o pé do acelerador”, reduzindo seus gastos para contribuir com a desaceleração do consumo.
* Marcos José Valle é bacharel em Ciências Econômicas, mestre em Educação, doutor em Sociologia. É professor no Centro Universitário Internacional – UNINTER, trabalha no Curso de Ciências Econômicas